30.5.05

Ordem no culto 1 de 3

Leitura preparatória recomendada:
- Ex 13.1-10 (Tempo anual)
- Lv 23.1-8 (Tempo da tarde)
- Dt 6.13-25 (Tempo de amanhã)
- Dt 16.1-6 (Tempo do por do sol)
- Sl 81 (Tempo marcado)
- 1Co 11.17-33 (Esperar até todos estarem juntos)


Introdução geral ao tema

A idéia desta série de lições nasceu de uma reunião com os Diáconos em que conversávamos sobre a dificuldade em se manter a boa ordem na Casa do Senhor.

Não chegamos a conclusão se determinadas coisas são falta de “vida espiritual” ou simplesmente falta de educação.

Um deles comentou: - Se todos soubessem da dificuldade que temos em evitar bagunça ... E outro logo emendou: - Pastor, o senhor tem que chamar a Igreja à atenção.

Quando eu tentei mostrar que resolveria pouco, ou quase nada, pois com o tempo volta-se tudo ao que era antes, ele arrematou: - Então chame todo dia.

Resumindo: chegamos a conclusão de que o melhor a se fazer é aproveitar que, como perdemos o ritmo das Revistas da Escola Dominical, debater este assunto durante os 3 primeiros domingos do mês de dezembro.

Cá entre nós, eu preferia, em dezembro, estudar a natureza humana de nosso Senhor. Entretanto, como vou fazer isso nos sermões de domingo, espero que estes estudos sejam de grande proveito.


Introdução ao assunto da lição

Você já deve ter notado a ambigüidade do título desta lição. Não encontrei outro melhor. Mas, esta ambigüidade serve para mostrar o quanto este tema é vasto.

Nele posso está me referindo ao que o apóstolo Paulo recomenda quando se trata do comportamento apropriado ao culto - “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem.” (1Co 14.40) – ou, também, à sanidade das doutrinas que são ensinadas na Igreja, como em Cl 2.5: “Pois, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito, estou convosco, alegrando-me e verificando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo.”

Posso até está me referindo à organização da Igreja. Veja Tt 1.5: “Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi”.

Na verdade a palavra ordem comporta muitos outros sentidos. Examiná-los todos, não apenas seria contra-producente como nos desviaria do rumo básico de nosso estudo que é verificar a ordem no que concerne ao aspecto diaconal.


Dicussão parcial: Sobre o tempo

Uma das coisas que mais afligem os diáconos, ou quem está expondo a palavra de Deus, para não falar em quem chegou antes, é a chegada de retardatários.

1. A pontualidade é basicamente uma questão de educação.

Chegar atrasado a um compromisso causa diversos problemas:
. Desrespeita a quem chegou pontualmente.
. Na maioria das vezes obriga a quem está expondo o assunto – se for um professor experiente - a fazer uma recapitulação, pois quem chega atrasado, geralmente, para compensar a falha, quer participar mais e acaba “atravessando” o assunto, ou perguntando aquilo que já foi dito.
. Atrapalha a apreciação daquilo que pode estar sendo motivo de prazer.

Estes 3 pontos acima você pode atestar em muitos lugares. Desde uma sala de aulas, até um espetáculo (cinema, teatro, etc).

Não é desagradável, quando você, finalmente entende como se resolve uma equação, um colega, que chega atrasado, pergunta ao professor, exatamente aquilo que ele já tinha explicado? Não quebra a dinâmica da aula?

O que dizer do sujeito que leva a namorada, o irmãozinho dela, três sacos de pipoca, três “baldes” de refrigerante e cisma de passar na sua frente, exatamente, quando a cena mais importante, para se compreender a trama do filme está sendo passada?


2. A pontualidade pode ser sinal de respeito ao povo de Deus

Porém o pior acontece na Igreja. Muitos não vão à Igreja prestar culto. Vão assisti-lo. Disso decorre, além do que já foi falado, que é comum a todo ajuntamento humano, mais dois problemas, que são peculiares ao “congregar do povo de Deus”:

a. Esfacelamento da unidade - Como o culto não é algo prestado por indivíduos, mas pela Igreja, como coletividade ou “noiva do cordeiro”, ocorre o esfacelamento do que deveria ser um encontro com Deus. Deixe-me explicar melhor:

O culto não é apenas uma reunião de membros de uma mesma sociedade. É uma reunião com Deus. É a oportunidade que a Igreja, como coletividade, tem de encontra-se com Deus e, por assim dizer, antecipar o que fará no grande dia em que se encontrará pessoalmente com quem morreu por ela, com quem a resgatou, com quem a formou, com quem a mantém, com quem a representa diante do Pai.

O culto não é prestado por indivíduos isolados, mas pela comunidade. Se você não levar isso em conta, jamais entenderá o exemplo que o Espírito Santo nos deu logo nos primeiros dias da Igreja: Ananias e Safira, que mentindo a alguns estava mentido à Igreja e mentido ao Espírito Santo.

No culto não sou EU que falo com Deus. Somos NÓS. Por isso dizemos amém, juntos. Por isso todos os que oram dentro de um ato de culto se dirigem a Deus usando a segunda pessoa dos verbos: Senhor, nós estamos aqui ... Senhor nós te agradecemos ... Senhor nós te suplicamos. Etc.

Portanto, o culto só deve começa quando toda Igreja estiver presente. Isso foi tão caro aos reformadores, que escreveram o seguinte:

Quando a congregação se reúne para a adoração pública, as pessoas (tendo anteriormente preparado os seus corações para tal) devem, todas, vir e fazer parte; sem se ausentarem das ordenanças públicas por negligência, ou por desculpa de reuniões privadas.

Que todos entrem na assembléia, não irreverentemente, mas de forma decente e solene, tomando os seus assentos ou lugares sem adorar, ou curvar-se em direção a um lugar ou outro.

Estando reunida a congregação, o ministro, após solene chamamento dos cristãos à adoração do grande nome de Deus, deve começar com oração.

“Em toda reverência e humildade, reconhecendo a incompreensível grandeza e majestade do Senhor, (o qual diante da sua presença, eles comparecem de forma especial) e a própria vileza e indignidade deles para aproximar tanto dele, com sua total incapacidade para tão grande obra; e humildemente implorando a ele por perdão, assistência, e aceitação, em todo o culto que então será realizado; e por uma benção sobre aquela porção específica da palavra que então será lida: E tudo no nome e na mediação do Senhor Jesus Cristo”.

Tendo começado a adoração pública, as pessoas devem acompanhar integralmente, evitando ler qualquer coisa, exceto o que o ministro está então lendo ou citando; e abstendo-se muito mais de todo o cochicho sobre assuntos particulares, conversação, cumprimento, ou reverência a qualquer pessoa que esteja presente ou entrando; também de toda distração, dormir, e outros comportamentos indecentes que possam perturbar o ministro ou as pessoas, ou atrapalhar a si mesmos ou outros no culto a Deus.

Se por alguma necessidade, alguém for impedido de estar presente no começo, tal pessoa não deve, ao entrar, aplicar-se em devoções privadas. Mas reverentemente se compor para unir-se à assembléia na ordenança de Deus que está então sendo realizada.

Por essa razão, as igrejas cristãs, antes de começarem seus cultos, avisavam a toda redondeza. Num tempo em que poucos possuíam relógios, e queria evitar-se a todo custo a imitação dos judeus que tocavam um “berrante” de chifre de cordeiro, inventou-se o sino. Modernamente, por influência das indústrias e, por medo de se parecer católico romano, se tem usado campainhas, sirenes, e outros que tais.

b. A ênfase cada vez maior em se apresentar um show a um auditório que pode ir chegando à medida que todos estão se preparando, para uma “apoteose” final.

Veja que, cada vez mais, a Igreja assume ares arquitetônicos de teatro: Na frente o palco. No restante o auditório. Algumas chegam a ter cortinas e “boca de cena”. Outras se encarregam de ter por trás do palco um cenário pintado. Muitas vezes o templo já é construído pensando em ser usado como um local propício à performance de artes cênicas.

Ou seja: o compromisso com Deus, passa a ser um compromisso com o homem. Mas mesmo assim, chegar atrasado viola aqueles três primeiros pontos, que se aplicam a qualquer ajuntamento humano e demonstra falta de educação.

Quando se presta culto, chegar atrasado, além de ser falta de educação, torna-se pecado, pois atenta-se contra a unidade do Povo de Deus, que o adora.


O que fazer para evitar os atrasos?

Eu já vi muitas tentativas, desde campanhas até exortações. Pela primeira vez vejo uma Igreja, a pedido de seus diáconos, debater o assunto em Escola Dominical. Creio firmemente que apenas a conscientização é o remédio adequado.

Porém não adianta pensar que nunca teremos atrasos. Alguns são legítimos e não dependem de nós. Mas os outros, que são fruto do descaso, podem e devem ser evitados.


Conclusão
Mais do que um compromisso qualquer, o culto é um ato único, que apenas o remido pode prestar, entender e, com ele se deleitar.

Como não vivemos em uma pequena comunidade ao redor da Igreja, não dá pra sair avisando de casa em casa: “vai começar o culto”. Muito menos tocar um sino (se bem que há experiências interessantíssimas com o uso de sinos em Igrejas que se situam no meio de uma área de prédios residenciais). Então precisamos de nos orientar pelos relógios.

Não creio que reste dúvida sobre a grande oportunidade de se respeitar a hora. Não apenas por educação, mas por respeito ao Povo de Deus, e por extensão a ele próprio.

Ordem no culto 2 de 3

I – Introdução
Falar sobre um assunto como este, além de ser uma tarefa ingrata, é muito difícil. Primeiro, porque cada um de nós pensa ter a noção exata do que é reverência e ninguém é mais reverente que nós. Segundo, porque, com o tempo, o conceito do que significa reverência foi muito alterado.

Por isso, tenho que me cercar de cuidados para que este assunto fique adstrito apenas ao que a Palavra de Deus nos ensina e evitar todo e qualquer subjetivismo.


II – Os textos bíblicos
Pesquisando na Edição Revista e Atualizada de nossa Bíblia em Português brasileiro encontramos os seguintes textos:

Reverência
1) 1Sm 24.8 Depois, também Davi se levantou e, saindo da caverna, gritou a Saul, dizendo: Ó rei, meu senhor! Olhando Saul para trás, inclinou-se Davi e fez-lhe reverência, com o rosto em terra. Traduz a palavra – shachah – que no Antigo Testamento é traduzida também por: Adoração (99 vezes), prostrar-se (31 vezes), prostrar-se ao chão (18 vezes), obediência (9 vezes), reverência (5 vezes), cair (3 vezes), por outras palavras (7 vezes).

2) Tt 2.7e8 - 7 Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência, 8 linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito. Traduz a palavra semno, - semnotes - que caracteriza coisa ou pessoa que se distingue dos demais por possuir as qualidades: reverência, respeito, dignidade, majestade, santidade, honra e pureza. É traduzida no Novo Testamento por: reverência (1 vez), gravidade (1 vez), honestidade (1 vez).

3) Hb 12.28 –29 28 Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; 29 porque o nosso Deus é fogo consumidor. Traduz a palavra - aidos - que pode ser uma partícula de negação, ou uma referência a ‘olhos baixos’. Também pode referir-se a Senso de vergonha [nosso vulgar: desconfiômetro], honra, modéstia, abatimento, reverência, discrição e respeito. É traduzida no Novo Testamento por: rosto envergonhado [o vulgar: “carão”] (1 vez), reverência (1 vez).
Reverenciadas.

4) Lm 5.12 12 Os príncipes foram por eles enforcados, as faces dos velhos não foram reverenciadas. Traduz a palavra - hadar - que no Antigo testamento é traduzida por: honra (3 vezes), serenidade (calma) (1 vez), dobra (1 vez), glorioso [no sentido de imperturbável] (1 vez). Pode significar também honra, adorno, glorificar, ser altaneiro.

Reverenciai-o
5) Sl 22.23 23 vós que temeis o SENHOR, louvai-o; glorificai-o, vós todos, descendência de Jacó; reverenciai-o, vós todos, posteridade de Israel. Traduz a palavra - guwr - Submeter-se, suportar, habitar em, habitar com, remanescer, morar. No Antigo Testamento é traduzida por: submeter (58 vezes), morar com 12 (vezes), amedrontar (6 vezes), estrangeiro (6 vezes), jugo (4 vezes), medo (3 vezes), suportar (2 vezes), juntar (1 vez), outros sentidos (5 vezes).

Reverenciareis
6) Lv 19.30 30 Guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o SENHOR. Traduz a palavra - yare - No Antigo Testamento é traduzida por: medo (188 vezes), temor (78 vezes), terror (23 vezes), coisa terrível (6 vezes), amedrontador (5 vezes), reverência (3 vezes), amedrontado (2 vezes), atos terríveis (1 vez), e outros sentidos (8 vezes)

7) Lv 26.2 2 Guardareis os meus sábados e reverenciareis o meu santuário. Eu sou o SENHOR.
Idem a anterior

Reverenciem
8) Gn 27.29 29 Sirvam-te povos, e nações te reverenciem; sê senhor de teus irmãos, e os filhos de tua mãe se encurvem a ti; maldito seja o que te amaldiçoar, e abençoado o que te abençoar. (Idem ao texto 1)

Reverente
Mt 18.26 26 Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei.

Traduz a palavra - proskuneo - Possui o sentido básico de beijar como um cachorro lambe a mão de seu dono, e pode significar beijar a mão de alguém em reverência. Entre os orientais, especialmente entre os Persas, significa cair de joelhos e tocar a terra com a testa em sinal de reverência. No Novo Testamento significa ajoelhar-se ou prostrar-se para homenagear alguém, ou demonstrar obediência ou ainda para fazer uma súplica. Também usado como homenagem a homens em posição social superior como o Sumo Sacerdote judaico. Usado para adoração a Deus, a Cristo, e com conotação negativa a seres celestiais e demônios. Aparece no Novo Testamento em 54 versículos.


III – Análise dos textos Bíblicos
a. Textos que usam a palavra hachah (adoração, prostrar-se, prostrar-se ao chão...)

O texto de 1Sm 24.8 fala de uma situação em que Davi tinha Saul ao alcance de sua espada, entretanto limitou-se a cortar um pedaço de sua roupa. Buscando paz com Saul, Davi prostra-se ao chão, com o rosto em terra e pede a Saul que confie nele, pois poupando-lhe a vida provava que não queria seu mal.

A expressão “fez-lhe reverência”, no contexto deste versículo significa cumprimentar reconhecendo a superioridade da pessoa a quem se dirige. Leia os versículos anteriores e você poderá ver que os homens de Davi queriam que ele matasse Saul, porém Davi arrepende-se do que já havia feito – cortar o manto – já que vê em Saul “o ungido do Senhor”.

O texto de Gn 27.29 é parte da bênção de Isaque, que Jacó com astúcia tomou de Esaú. Não há qualquer hipótese de outra tradução além de respeito ou homenagem, já que Isaque está falando não apenas de Jacó, mas do povo que se originará nele e das nações que os rodearem. Esta bênção começa a cumprir-se quando Jacó sai da casa de seu sogro Labão. Ela torna-se clara, quando ele é amparado por seu filho José no Egito e recebido pelo próprio Faraó.

b. Texto que usa a palavra hadar (honra, serenidade ou calma...)

A respeito de Lm 5.12, com toda certeza, o contexto não nos permite traduzir por nada que tenha um sentido maior que saudação respeitosa.

O profeta Jeremias está lamentando a situação em que o Povo de Deus se viu lançado após a invasão dos babilônios, e, especificamente, neste versículo, e seus imediatos (11 e 13), falam das desgraças das mulheres, das virgens, dos príncipes, dos velhos, dos jovens e dos meninos.
Não deixa de ser terrível observar que o profeta vê como equivalentes os sofrimentos do povo à falta de reverência aos velhos.

c. Texto que usa a palavra guwr (submeter, morar com...)

Sobre o Sl 22.23 há duas lembranças que devem nortear nossa leitura:

1) É um salmo muito citado no Novo Testamento, como referência expressa a Jesus (veja: Mt 27.35, 39,43 e 46 – Jo 19.23,24 e 28 – b 2.12) e a seus sofrimentos. É, portanto um Salmo messiânico: foi cumprido em Cristo. Veja o início do Salmo: ele foi citado textualmente por nosso Senhor quando estava na cruz.

2) Nosso versículo encontra-se dentro de um paralelismo.
- Vós que temeis o SENHOR,
-- louvai-o;
-- glorificai-o,
- vós todos, descendência de Jacó;
-- reverenciai-o,
- vós todos, posteridade de Israel.

O paralelismo aponta nitidamente para 3 ações que as mesmas pessoas (vós que temeis o SENHOR, vós todos, descendência de Jacó, vós todos, posteridade de Israel) citadas de três maneiras diferentes, devem fazer: louvar; glorificar; reverenciar.

Embora, a idéia de um “crescendo” nos verbos louvar, glorificar e reverenciar possa estar presente, o contexto nos manda a encará-los como sinônimos (neste caso), pois quem deve fazer são as mesmas pessoas.

d. Textos que usam a palavra yare (medo, temor, terror...)

Os textos de Lv 19:30 e Lv 26.2 são iguais. O texto do capítulo 19, conhecido tradicionalmente entre os Judeus como o Kedoshim - santos – lista todos os preceitos que Deus proíbe e exige de seu povo, como povo peculiar e diferente de todos os outros. Neste texto encontra-se uma série de preceitos que vão de alguns mandamentos até a proibição de costurar lã e linho na mesma roupa. Interessantemente há uma ordem a respeito dos anciãos (que em outros textos alude-se a reverenciá-los): levantar-se na presença deles (Lv 19.32).

O texto do capítulo 26 está advertindo contra a idolatria. A lição é clara: Reverência apenas à casa de Deus. Reverenciar outra casa é idolatria.

e. Textos que usam a palavra semno, semnotes (reverência, gravidade, honestidade...)

Dirigida a Tito esta carta de Paulo possui instruções claras de como pastorear a Igreja de Creta. No nosso versículo além de exigir de Tito que seja modelo de boas obras, Paulo ordena-lhe que, ao ensinar, o faça de tal forma, que o adversário fique envergonhado e sem nada o que falar contra. Destaca-se a necessidade de reverência ao ensinar.

f. Texto que usa a palavra aidos (rosto envergonhado, reverência...)

Esta palavra multifacetada em seus aspectos, tem como núcleo o sentido “olhos baixos”. Sua idéia central é servir ao Senhor com senso de extremo respeito.

g. Texto que usa a palavra proskuneo (ajoelhar-se ou prostrar-se...)

Esta é a palavra mais tecnicamente relacionada a adoração em todo o Novo Testamento. Seu uso determina o verdadeiro ato de adoração. E é exatamente este tipo de adoração, que o inimigo de nossas almas tenta obter de nós. Ela envolve o sentido de prostrar-se com o sentido de envolvimento.

Observe que no texto (parábola de Jesus sobre dois servos que deviam ao mesmo senhor e um deles devia ao outro) o servo literalmente “prostra-se prostrando-se com respeitosa humildade” e roga. Ou seja: suplica.


IV – O que a Bíblia nos fala de reverência
Em todos esses textos há alguns significados que se repetem: Cumprimento, consideração de superioridade, prostração e temor. Talvez haja outros mais, porém estes podem ser claramente vistos em todas as palavras.

1. Cumprimento
Não é alusão direta ao cumprimento em si, mas ao sentimento de quem cumprimenta. Observe, que ao encontrar-se com alguém, e cumprimentá-lo reverentemente, o “cumprimentador” está atribuindo grande consideração a seu relacionamento com quem é cumprimentado.

Não é o caso que decorre do cumprimento de iguais, como nós estamos acostumados em nossos dias, mas transmite-nos a força dos cumprimentos de uma época em que as desigualdades sociais eram maiores do que hoje e impossíveis de serem removidas, já que tinham origem familiar.

Talvez possamos ter um vislumbre do que esse tipo de cumprimento significa se nos lembrarmos que, mesmo entre iguais, um cumprimento feito depois de uma separação prolongada nunca é debochado.

Há dois exemplos bíblicos que mostram tais sentimentos de forma muito clara:
1. Jacó cumprimentando seu irmão Esaú depois de muitos anos fugindo dele (Gn 33).
2. João, que, na última ceia com Jesus estava encostado ao seu peito, e que depois de 30 anos, ao revê-lo glorificado prostra-se com o rosto em terra.

No primeiro caso eles estão separados pelo ódio há muitos anos (mais de 20 anos). No segundo caso a separação está impregnada de saudade.

No primeiro caso, a ira de um é aplacada pelos sucessivos presentes do outro, que se aproxima prostrando-se com o rosto em terra (por 7 vezes), e separa-se tão logo pode. No segundo caso a saudade é substituída pela surpresa e pelo espanto. Aquele rosto dócil havia mudado em um rosto com cabelos brancos, com olhos penetrantes como fogo e palavra cortante como espada.

Em ambos os casos há um terrível “respeito amoroso” que leva à prostração. O primeiro com medo e apressado para fugir. O segundo em terna submissão, guiado pelo espanto do que via e ouvia.

2. Consideração de superioridade
Este sentimento também é comum ao campo de significados de cada uma dessas palavras. Sempre que a reverência está presente em alguém, tal pessoa considera o outro a quem se dirige como seu superior.

Parece “chover no molhado” mas não é. Não se pode reverenciar a alguém que se trata com intimidade de iguais. Reverência pressupõe superioridade de quem está sendo reverenciado.

3. Prostração
É um traço peculiar às culturas antigas, muito especialmente das culturas orientais nas quais há certo grau de observação até os dias de hoje. Muito provavelmente tenha-se originado como um sinal de “não ameaça” ou de puro temor.

Até onde pude ver, a prostração só fazia parte da cultura indígena e da cultura africana de nosso país apenas como ritual. Era um traço distintivo da cultura portuguesa, que apesar de suas origens cristãs, chegou a nós grandemente miscigenada com traços mulçumanos da Península Ibérica, recém libertada dos “mouros”.

Tanto nossos antepassados indígenas, como nossos antepassados africanos, apresentavam-se diante de seus deuses dançando, nas ocas ou nos terreiros. Diferentemente, os portugueses, inicialmente cristãos, tinham o hábito de se ajoelhar. Depois e dominados pelos mouros (mulçumanos), apesar do respeito religioso de que gozavam, tinham neles o exemplo de prostração. Expulsos os mouros, cerca de 50 anos antes do descobrimento, do Brasil, a Igreja de Roma, restabeleceu com grande rigidez, todas as práticas anteriores e agravou algumas.

O Brasil, portanto, nasce, e é colonizado por um catolicismo que lutava para se libertar de algumas práticas mulçumanas, mas que apesar disso era extremamente supersticioso, místico e depreciador da obra de Jesus.

4. Temor
Geralmente não nos damos conta do quanto este sentimento está presente na Igreja dos dias apostólicos. Preferimos ressaltar textos como o de Jo 4.18 “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor".

Sem verificar bem a respeito do que João está falando, esquecemos de At 2.43, At 5.5, At 5.11, At 9.31, At 19.17, Rm 3.18, 2Co 5.11, 2Co 7.1, 2Co 7.15, Ef 5.18-21, Ef 6.5, Fp 2.12, Hb 12.28, 1Pe 1.17, 1Pe 3.15-16 e 1Pe 1.23.


V – Traços do que a Bíblia chama de reverência

Reverência é:
- Declaração completa (gestual e vocal) de inferioridade diante de um superior.
- Declaração completa (gestual e vocal) de submissão a quem o reverente se dirige.
- Declaração completa (gestual e vocal) de prontidão a vontade do reverenciado.

Reverência não é:
- Passividade ou apatia. Pois o reverente, além de prostrar-se, se dispõe a atender o que lhe for ordenado.
- Tristeza. Pois o reverente age, com alegria de poder satisfazer a vontade do reverenciado.
- Morbidez ou estado fúnebre. Pelo contrário: o reverente está tão solícito, que embora esteja “com os olhos abaixados” ou “com o rosto no pó” ele o faz com a vivacidade própria dos dispostos.
- Confusão. Pois aguarda-se em silêncio a disposição e as ordens daquele que é reverenciado.


VI – Aplicação
1) Na nossa vida
A reverência é o produto natural de uma pessoa reverente. Não ao contrário. Dificilmente alguém, cuja visão de mundo seja irreverente, poderá ter um comportamento reverente em qualquer ato de sua vida.

O cristão, por causa de sua regeneração, e pela apreciação da grandeza do sacrifício de Cristo em seu lugar proporcionada pelo Espírito santo, e, naturalmente, mais capacitado a viver uma vida reverente.

Veja que o Fruto do Espírito fala diretamente de comportamentos reverentes. Por exemplo: longanimidade, benignidade, bondade, masidão, domínio próprio. Etc.: “22 Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, 23 mansidão, domínio próprio". (Gl 5.22e23)

Veja também que as ordens comportamentais são quase todas de teor semelhante:

Rm 12. 10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. 11 No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor; 12 regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, na oração, perseverantes.

Ef 4.30 E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção. 31 longe de vós, toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim toda malícia. 32 Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou.

Ef 5:1 Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; 2 e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave. 3 Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou cobiça nem sequer se nomeiem entre vós, como convém a santos;

1Pe 1. 13 Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo.
Portanto, Agir reverentemente perante a vida, ou viver de modo reverente é um valor cristão.

2) Na nossa adoração
Quase que instantaneamente, ao se falar de reverência, se pensa logo no culto que devemos a Deus. Porém ser reverente no culto é a conseqüência de um viver reverente diante de Deus.
Você já deve ter lido em diversas partes da Bíblia o quanto Deus abomina a pessoa que só “age reverentemente” dentro de sua casa, mas vou destacar três textos que sempre me impressionaram:

1. Is 1.10 Ouvi a palavra do SENHOR, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra. 11 De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? -- diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. 12 Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios? 13 Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. 14 As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. 15 Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. 16 Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. 17 Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas.

Observe que Deus está insatisfeito com o culto que a ele era dedicado porque ele não correspondia à vida que eles levavam. Eles não viviam em reverência e temor a Deus e se atreviam a comparecer em sua casa.

Ml 1. 8 Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? -- diz o SENHOR dos Exércitos. 9 Agora, pois, suplicai o favor de Deus, que nos conceda a sua graça; mas, com tais ofertas nas vossas mãos, aceitará ele a vossa pessoa? -- diz o SENHOR dos Exércitos. 10 Tomara houvesse entre vós quem feche as portas, para que não acendêsseis, debalde, o fogo do meu altar. Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oferta.

De um modo surpreendente o Senhor está mostrando ao povo que eles tinham mais reverência para com seus governantes do que para com Ele. Davam aos governantes o melhor, e ao Senhor dedicavam em sacrifício (que tipificava seu Filho) um animal defeituoso. Isso o desagradava tanto que ele preferia ver o templo fechado e o altar apagado.

Jo 2.13 Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. 14 E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; 15 tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas 16 e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio. 17 Lembraram-se os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me consumirá.

Esta a primeira “limpeza” que Jesus faz no templo. Ocorreu no início de seu ministério terreno. Muito semelhante a que ele faz em sua última semana, destaca-se porém pela premeditação com que ele usa de violência: Ele faz um chicote de cordas.

Veja a que ponto chega a natureza humana: os profetas falaram do desagrado de Deus Pai com o culto reverente que não correspondia a vida “irreverente” que eles levavam. Aqui o Deus filho os encontra levando essa vida dentro da casa do Senhor, pela qual eles estavam mais do que avisados que deveriam ter reverência.

Além de premeditado o castigo e imediato e violento. Surpreendentemente vem das mãos daquele que João tinha liberdade de aconchegar-se no peito. Nunca se esqueça de que não é com esse que a Igreja relaciona-se hoje. Nos relacionamos com o que apareceu a João em Patmos. Os “dias de sua carne” acabaram-se a 2 mil anos. Hoje, apesar de ter natureza humana, como todos nós temos, de cordeiro que tira o pecado do mundo ele, entronizado, reina como o leão e virá como Rei trazendo justiça.


VII – Conclusão
Tanto na vida cúltica, quanto no culto propriamente dito, a reverência deve marcar os atos do cristão, pois ela é parte fundamental da de nosso relacionamento com Deus. Não é a toa que a Palavra de Deus nos diz que o culto é marcado pela razão. Ou seja “culto racional”.

É a razão que nos ensina o que Deus é e o que nós somos. Somos remidos, é certo, mas somos nada diante de Deus. Nossa posição diante dele deve ser “rosto em terra”. Celebramos as bênçãos que recebemos dele diariamente, que nada mais são do que “respingos” da bênção maior: a salvação. Mas, diante dele temos muito mais que agradecer do que celebrar, pois é devido as suas misericórdias que não somos consumidos (Lm 3.22e23).

Se somos exortados a viver de diversas formas que condigam com uma vida reverente, somos exortados também a cultuá-lo de forma reverente: “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor” (Hb 12.28e29).

Ordem no culto 3 de 3

I – Introdução
Nas 2 lições anteriores, vimos alguns dos princípios que orientam a atuação diaconal sobre a ordem na Igreja: O tempo e a reverência.

Estou longe de falar sobre todos esses princípios (e, também, não é este o objetivo dessas lições), pois os diáconos têm outras funções além de zelar pela boa ordem na casa de Deus, porém, com essas lições, espero, pelo menos, realçar a importância de nossa boa participação no culto a Deus.

Hoje esta série será concluída; não com uma palavra final sobre todos os assuntos, porém, de modo mais amplo, fornecendo algumas bases que facilitem nossas conversas futuras sobre o assunto.


II - O culto e as demais reuniões
Tenho falado que nossa vida tem de ser um verdadeiro culto a Deus, no sentido amplo da palavra “culto”, mas isto não elimina a necessidade de nos reunirmos para “cultuar” a Deus, num sentido mais estrito.

Na lição anterior mostrei que a pessoa que não vive uma “vida de reverência”, dificilmente será reverente ao se reunir em culto a Deus. Isto é o mesmo que dizer que só consegue cultuar a Deus em Espírito e em verdade, aqueles que já o cultuam em todos os seus atos vivendo uma vida santa. Pois mesmo que tentassem fazê-lo, seriam tão rejeitados por Deus quanto é dito pelo profeta Isaías:

10 Ouvi a palavra do SENHOR, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra.
11 De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? —diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. 12 Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios?
13 Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. 14 As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer.
15 Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. 16 Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. 17 Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas.

Há um agravante a mais no problema: o Povo de Deus não se reúne apenas para cultuá-lo. Nos reunimos para estudar a Bíblia, para orar uns pelos outros, para tratar dos assuntos próprios da sociedades das quais somos membros, para ensaiar cânticos, para comemorar aniversários, para agradecer bênçãos recebidas, para jogar bola, etc.

Todas essas reuniões, e tudo o que fizermos na vida, deve ser feito de tal forma que, possamos dizer que foi para a glória de Deus. Até daquele jogo de futebol bem marcado. Ou seja: verdadeiro culto a Deus. Porém jamais podemos deixar de lado o momento de comparecermos diante dele como Igreja.

Neste momento, que deve ter hora marcada para que todos desfrutem da mesma graça, a reverência é imperativa, pois estaremos na presença do SENHOR, confiados nos méritos de seu Filho, trazidos pelo seu Espírito.

Este momento deve estar limitado a falarmos apenas com Deus e ouvirmos apenas a sua voz. Falamos com Deus através de louvores, súplicas ou confissões. Ouvimos sua voz através de sua Palavra lida e exposta.

Nas demais reuniões ouvimos instruções ou opiniões de professores, de amigos e até do técnico de nosso time. No culto ouvimos apenas a Palavra de Deus, através de quem foi ordenado para tanto, e ele nada pode dizer que não possa iniciar com a frase: “assim diz o Senhor”. Tudo que ele falar deve ser, no máximo, uma exposição ou explicação do que o Senhor já falou e foi registrado em seu livro.

Nas demais reuniões falamos também com nossos irmãos, ou com quem nos visita e não entende bem o que está ocorrendo. No culto cabe falar apenas e tão somente com o Deus altíssimo.

Nenhuma outra reunião demanda tais condições: apenas o culto.


III - O que é próprio do culto
O culto exige alguns cuidados que o Povo de Deus deve ter:

a. Senso de coletividade
O culto individual eu presto no silêncio do meu quarto após fechar a minha porta. O culto familiar eu presto, junto com os meus, dentro de minha casa. Porém o culto público quem presta é a Igreja.
Sendo a Igreja que está cultuando, e, sendo você é membro desta Igreja, não é impróprio encarar este encontro como apenas algo para se assistir?

Não é impróprio, também, ausentar-se, distrair-se ou fazer qualquer outra coisa enquanto os demais irmãos estão na presença do Senhor de todos em ato de culto?

Não é impróprio, igualmente, desprezar o começo ou o fim deste bendito encontro?

Ao dirigir-se a Deus, quem o fizer, deve ter em mente que o faz em nome de todos. Não próprio dizer “meu Deus” e sim “nosso Deus”. Não é próprio pedir por suas necessidades individuais (como faz no íntimo de seu quarto, ou à mesa com os seus queridos) mas sim pelas necessidades da Igreja. Não é próprio confessar seus pecados, e sim os pecados da Igreja (e isto se tiver sido ordenado para tanto).

b. Senso de unidade
Que dizer daqueles que, declarando serem um em Cristo, comparecem diante do Pai, com intenções individuais?

Alguns não aproveitam o momento de culto para mostrarem suas posses, seus dons, suas proezas? Eu já ouvi orações, teoricamente dirigidas a Deus, que, na realidade, estão sendo dirigidas aos que estão por perto ouvindo.

Isso não é novidade. Jesus contou a parábola do fariseu e do publicano, que estavam orando. A quem as palavras do fariseu se dirigiam? Leia:

10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!
14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.(Lc 18)

Jesus declara que ele orava “de si para si mesmo”, com a intenção de ser se exaltar.

Em outro lugar nosso Senhor fala dos hipócritas que gostam de orar “para serem vistos pelos homens” Mt 6.5.

Esta prática é um pecado tão dissimulado que, muitas vezes, não nos damos conta dele. Ela despreza a unidade do corpo de Cristo, pois quem a faz tem os demais como inferiores a si próprio.

c. Senso de responsabilidade
Parece ser óbvio mas não é. Que coisa mais importante podemos fazer, além de nos apresentar diante do Deus Altíssimo? Por que, então, agimos como se estivéssemos em nossos momentos de lazer?

Nossas vestes refletem o que? Louvor ao Senhor dos Exércitos, que nos deu seu Filho?

Nossa disposição? É semelhante a que temos quando nos convidam para momentos de diversão? Podemos nos apropriar da declaração do salmista e dizer que ficamos alegres ao simples convite para ir a casa do Senhor?

Nosso comportamento é adequado a uma audiência com o Rei dos reis e o Senhor dos Senhores, ou, se pudéssemos traríamos pipoca e refrigerante para tornar mais agradável os bancos tão desconfortáveis?

Ouvimos a Palavra do Senhor pensando no que ela afetará nossas vidas, ou a recebemos com críticas semelhantes a: “hoje é diferente”.

d. Senso de trabalho
Embora não gostemos de chamar o culto de trabalho, as palavras que a Bíblia usa sempre possuem esta conotação.

O culto não é um momento de lazer. Tampouco o Dia do Senhor. Não reservamos um dia por semana para ficar a toa, ou gastarmos em nossas próprias recreações. Reservamos para “cultivar” nosso relacionamento com o Senhor. Para aprender sua vontade. Para consagrarmos a ele nossas vidas. Não reservamos o momento de culto para nosso próprio deleite, mas para nos apresentarmos a ele como Igreja. Como produto do “penoso trabalho de sua alma”.

É certo que o repouso faz parte do Dia do Senhor, pois é o modo pelo qual nos preparamos para oferecer a Ele o melhor de nós.

Talvez a melhor figura tenha sido encontrada na Idade Média, quando os feirantes se preparavam com antecedência para saírem cedo de casa e venderem seus produtos nas cidades próximas durante o dia. Naqueles tempos costumava-se dizer que o Domingo era a “feira da alma”, para a qual todos se preparavam com antecedência, e desfrutavam o melhor dela no encontro com o doador de “todos os frutos”.

e. Senso de inadequação
Por incrível que pareça, esta afirmação, tão questionada nos dias de hoje, talvez seja a melhor apresentação do “culto racional”.

Constantemente o Senhor, ao longo de toda a Escritura pergunta: “quem requereu o entrares nos meus átrios?” Nós, finalmente, podemos responder com ousadia: Não merecemos estar aqui, mas trazidos pelo Espírito Santo, e confiados nos méritos de Cristo, nos apresentamos diante do trono santo, com ações de graças e súplicas.

Por natureza a Igreja não é o nosso lugar. Todos estávamos mortos em nossos delitos e pecados e éramos filhos da ira, mas Deus sendo rico em misericórdias ... Veja os capítulos iniciais da carta de Paulo à Igreja de Éfeso. Não esqueça: ele está falando a uma igreja, muito semelhante à Igreja Presbiteriana da Ilha.


IV - Conclusão
O culto é uma bendita oportunidade que temos de oferecer a Deus o que temos de melhor, porém muitas vezes estamos oferecendo-lhe sobejos.

O culto é uma bendita oportunidade que temos de comparecer diante do Senhor dos céus e da terra, daquele que morreu por nós e ressuscitou para nossa salvação, mas as vezes nos comportamos tão displicentemente que parece estarmos ouvindo uma arenga de comadres ou a repetição de um monólogo chato.

Na primeira lição eu expliquei que este assunto era fruto da apreensão dos diáconos de nossa Igreja, que me disseram muitas coisas. Nenhuma dessas coisas me assustou, pois eu já as vi em outros lugares.

Já vi bêbados entrarem na Igreja, namorados “se curtirem”, biscoitos correrem de mão em mão, pais darem chaveiros para seus filhos brincarem, jovens trocando bilhetinhos, diáconos discutindo futebol, pastores grudando chicletes mascados debaixo da cadeira... Se não vi de tudo, falta muito pouco para ser visto.

Como lamento ter de escrever isto. Como lamento ver as ovelhas que Deus me mandou apascentar, trocarem as preciosas bênçãos do Senhor, por coisas tão bobas que se não fossem trágicas seriam engraçadas.

Espero chegar logo o dia em que todos nós não troquemos nada, absolutamente nada, pela “parte de Maria”: ficar aos PÉS do Senhor. Esta é a melhor parte.

28.5.05

Antes de batizar seu filho

Palavras iniciais

Queridos pais;

Ao batizarem seu filho vocês estão fazendo muito mais do que uma mera formalidade: vocês estão obedecendo um ordem de nosso Senhor. E, tenham certeza, de que na há de mais importante para a educação de uma criança do que ser criada conforme o temor do Senhor, que é o princípio da sabedoria.

A criança vê o quanto seus pais temem a Deus e aprende a teme-lo também. Da mesma forma, ao desobedece-lo, a criança também será testemunha disso e crescerá, não apenas debaixo da desobediência dos pais, mas a imitará de si mesmo.

Acima de tudo, porém, há uma grande consideração a mais que se deve fazer: ao colocarem seus filhos como herdeiros do Pacto, não apenas estão procurando os interesses dele, mas acima de tudo estão confiando em Deus como o grande guardião das promessas deste Pacto tão importante, que tem como fiador próprio Filho de Deus.


O que a Bíblia diz
Batizar nossos filhos é um doutrina que pode ser deduzida de diversos textos e do ensino geral da Sagrada Escritura. Entretanto, como não é o caso de se escrever um verdadeiro tratado sobre o assunto, já que muitos o fizeram bem melhor do que eu poderia faze-lo, vale pensar em um texto que é básico para o entendimento disso: Cl 2.6-15 - Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças. Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. 10 Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade. Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.

Neste texto o apóstolo Paulo está chamando a atenção dos crentes da Igreja de Colossos para que não se deixassem enredar pelo que algumas pessoas más estavam ensinando sobre Cristo, pois nele “habita corporalmente toda a plenitude da divindade”, nele estamos “aperfeiçoados”, ele “é o cabeça de todo principado e potestade”, e nele fomos circuncidados.

Certamente há que se perguntar: como? E, ele adianta-se explicando: através do batismo.
Ora para a Igreja cristã o batismo é o substituto da circuncisão (característica do Antigo Testamento), de modo mais amplo pois atinge a homens e mulheres e sem derramamento de sangue, pois o verdadeiro sangue, do qual todos os demais eram apenas tipo, foi derramado de uma vez por todas.

Resta a nós perguntar. Como era feita a circuncisão nos dias de nossos antepassados? Há muito o que dizer sobre esse assunto, entretanto o fundamental, para o que nos interessa aqui, e lembrar que era feita ao oitavo dia, e, que a pessoa que não fizesse violaria o Pacto que Deus fez com Abrão, nosso pai na fé. Veja: Gn 17.9-14 - Disse mais Deus a Abraão: Guardarás a minha aliança, tu e a tua descendência no decurso das suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado.
Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós. O que tem oito dias será circuncidado entre vós, todo macho nas vossas gerações, tanto o escravo nascido em casa como o comprado a qualquer estrangeiro, que não for da tua estirpe. Com efeito, será circuncidado o nascido em tua casa e o comprado por teu dinheiro; a minha aliança estará na vossa carne e será aliança perpétua. O incircunciso, que não for circuncidado na carne do prepúcio, essa vida será eliminada do seu povo; quebrou a minha aliança.

Veja, que quem faz as promessas é Deus. Ele é o grande comprometido quando pactua conosco. Tudo que nos cabe é trazer o sinal do pacto e ele é o Deus nosso e de nossos filhos.


O que a história nos ensina
Até o Século 16 a praxe cristã era batizar todas as crianças. Alguns grupos minoritários não o faziam, especialmente aqueles que viam no batismo o único modo de lavar os pecados do dia-a-dia. Como viviam se batizando (após pecarem), ficaram conhecidos como “anabatistas”.

Com a Reforma Protestante, diversos grupos que se voltavam contra a igreja de Roma, voltaram-se também contra suas práticas. Ela afirmava então, e ainda afirma hoje que o batismo lava o “pecado original”, ensino que as Escrituras não fazem. Nada mais lógico que, por esse motivo, abandonassem a prática de algo que é bíblico, não conforme a Igreja de Roma ensina, mas em decorrência de se obedecer ao Pacto.

Com o crescimento dos ramos protestantes que não consideravam os ensinos do Pacto o batismo de crianças foi também diminuindo.

O terrível é que com esse abandono, apareceu uma prática, que, de tão comum em nossos dias, resolvi escrever este texto para todos os pais que hão de apresentar seus filhos ao batismo, para que façam, não por tradição, mas conscientemente.

A grande maioria das crianças filhas de pais cristãos protestantes (ou evangélicos de um modo geral), é ensinada, desde cedo que não pertence ao Pacto, quando o batismo diz exatamente ao contrário.

Quantas vezes nossos filhos, na mais tenra idade, ainda não alfabetizados, são exortados a “convidar Jesus para morar em seus coraçõesinhos”, ou a “decidirem-se por Cristo”, quando deveriam ser lembradas constantemente, que pelo batismo, já foram consagradas ao Senhor e são também “pactuantes” da mesma graça.


Compromissos que se estabelecem

Da Parte de Deus

De ser o nosso Deus e Deus de nossos filhos.
Essa é uma verdade esquecida, mas o texto de Gênesis é bem claro. Nossos filhos são partícipes do pacto que fizemos com Deus. Mais tarde, quando cônscios do que crêem, eles confirmarão. Enquanto não puderem faze-lo, nós os representamos.

De visitar nossa iniqüidade em nossos filhos e também ser-lhes misericordioso
Veja Êxodo 20.4-6: “4 Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. 5 Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem 6 e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.”

Aqui temos a promessa e ameaça do Senhor. Deixar de levar tal advertência em conta é um grande perigo do qual temos de nos desviar.

Santificar nossos filhos. Esta garantia temos como grande alívio nos casos aflitivos de ruptura que muitos lares vivem. O texto sagrado é claríssimo: Os filhos de, pelo menos um crente, são santos. Veja 1Co 7.14: Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos.

Por favor, lembre-se que santo, não significa apenas o que não comete pecado, mas também o que é consagrado. Este é o sentido da palavra neste texto.

De recebê-las. Essa é uma das mais sublimes afirmações feitas por nosso Mestre e Senhor: Mt 19.13e14: Trouxeram-lhe, então, algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse; mas os discípulos os repreendiam. 14 Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus.


Da Parte dos Pais

De receber de graça o Pacto outorgado por Deus. Diferentemente do que ocorre conosco quando fazemos um pacto em que as partes pactuantes estão em pé de igualdade, o Pacto feito pelo Senhor nosso Deus, é outorgado, pois ele sabe muito bem que nada podemos fazer para cumpri-lo. Seu cumprimento é providenciado por ele mesmo através de seu Filho. Cabe a nós apenas recebe-lo e em obediência externar a todos que vivemos debaixo deste Pacto Sagrado, mediante o sinal do batismo.

De conscientizar os filhos. Nossos pequenos dêem crescer consciente de que um dia os representamos diante de Deus no recebimento deste Pacto, e que, quando eles estiverem grades o suficiente para entender o que é a graça da qual este Pacto deriva-se, eles deverão confirma-lo na presença do Povo de Deus através do que em nossa Igreja é chamado de Pública Profissão de Fé.


Palavras finais

Conselhos de um pai: Nunca leve seu filho duvidar ou ser exposto à dúvidas sobre o amor de Deus, nem sobre como nós devemos responder em obediência a este amor.

Ensine primeiro a seu filho a ser justo. Como Deus fez com seu povo. Ensine primeiro o olho-por-olho e dente-por-dente. Depois que ele tiver aprendido bem, não deixe de ensinar-lhe o perdão e a graça.

Não permita que um erro fique sem uma punição. Lembre-se de que seu filho terá de Deus, mais tarde, um conceito muito parecido com que ele está fazendo de você hoje enquanto cresce.


Conselhos do pastor: Jamais leve seu filho pensar que pode inventar da própria cabeça que pode agradar a Deus, ou pode fazer coisas que agradam a Deus, sem a medição de Cristo.

Não admita outro critério de certo ou errado que não a Palavra de Deus. Tenha suas próprias regras mas fundamente-as todas na Palavra de Deus.

Lembre-se de Ef 6.4 (E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor), e eduque seu filho “na admoestação do Senhor”. Todas as vezes que ficar ofendido com o que ele praticou, veja se isso ofende a Deus também. Se ofender castigue-o.
Se não ofender, não queira ser mais santo do que Deus, e não o provoque a ira.