26.7.07

Pactos – 1 de 3

I - Introdução ao Assunto

Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto. (CFW VII, I)

Deus, por sua própria natureza, age através de pactos. Foi assim desde a eternidade, pois antes "da fundação do mundo" nossa redenção já era objeto de pacto entre o Pai o Filho. Foi assim que ele agiu com nossos primeiros pais e é assim que ele age conosco hoje.

Este estudo não tem a pretensão de exaurir o assunto, mas, se através dele, você passar a ver-se pactuante com o próprio Deus e perceber que nada em sua vida está fora de tal pacto, ficarei satisfeito.

 
 

II - Introdução a esta lição

Aprendemos a noção de pacto com o próprio Deus. Aliás, ele a imprimiu em nossa constituição: somos seres gregários em todos os sentidos da palavra e não sabemos viver só. O isolamento e a segregação, bem como a misantropia e a misoginia é uma exceção tão notável que na maioria das vezes é sintoma de doenças. A vida gregária pressupõe pactos - alguns mais rígidos do que outros - mas eles estão presentes em tudo o que fazemos.

Pactuamos desde nossa vida nacional à mais simples obrigação de cumprimentar alguém que cruza nosso caminho. E curiosamente diante do desafio que atinge nosso planeta como um todo – o aquecimento global – já sentimos falta de um pacto supranacional que proteja a humanidade.

Quando substituímos a vida pactual por qualquer outro tipo de comportamento, experimentamos insegurança, instabilidade e esfacelamento de nossas perspectivas.

Mas, antes os pactos eram mais claramente celebrados e observados do que hoje. Todos já ouvimos da "palavra empenhada" ou do "fio de bigode".

Antes a rigidez era ainda maior - especialmente nos tempos bíblicos - e uma das características de nossos dias e dos dias futuros, é exatamente a frouxidão das relações pactuais.

A Palavra de Deus diz claramente que os homens dos últimos dias (e já vimos que isto se refere ao período entre o Pentecostes e a volta do Senhor) se caracterizarão por muitas coisas dentre elas a "perfídia": Literalmente "quebra de pactos" (Rm 1.31).

 
 

III - Tipos de Pacto

Nos tempos bíblicos usava-se três diferentes tipos de pactos, a que os estudiosos deram o nome de: Concessão Real , Soberania e vassalagem e Paridade.

1º "Concessão Real" - Era uma espécie de prêmio incondicional que um soberano concedia a um servo por bons serviços prestados.

Quando Deus avisou a Israel os direitos que um rei teria sobre eles mencionou este costume: "E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos" 1Sm 8.14.

Saul também faz menção dele: "disse Saul a todos os seus criados que estavam com ele: Ouvi, peço-vos, filhos de Benjamim, dar-vos-á também o filho de Jessé, a todos vós, terras e vinhas..." 1Sm 22.7.

E, baseado nesse costume, Davi pede a Aquis um terreno: "...Se eu tenho achado graça em teus olhos, dá-me lugar numa das cidades da terra, para que ali habite ... Então lhe deu Aquis, naquele dia, a cidade de Ziclague (por isso Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao dia de hoje)" 1Sm 27.5e6.

Observe que o mesmo costume era observado fora de Israel: "Naquele mesmo dia deu o rei Assuero à rainha Ester a casa de Hamã ..." Et 8.1.

Podemos até não ver tal costume nos dias de hoje com uma espécie de pacto, mas naqueles dias era algo que estabelecia um relacionamento mais forte entre o soberano e o servo.

2º "Soberania e vassalagem" - Acontecia entre reis. Um poderoso tomava outro como seu vassalo, sob determinadas condições.

Um bom exemplo disso é o que os Gibeonitas fizeram (Js 9), e a parábola das "Duas Águias e da Videira" só se sustenta se admitirmos a existência deste tipo de pacto (Ex 17).

3º Paridade - Este está presente nas mais diversas passagens bíblicas e refere-se basicamente aos acordos que conhecemos até hoje, em que duas partes idôneas, espontaneamente, se obrigam a determinadas condições visando um fim que as atenda. Este tipo de pacto é sempre condicional.

De tudo isso o mais importante é destacar que apenas o primeiro tipo de pacto é incondicional e visa fortalecer as relações de um servo com seu senhor. Nos demais as condições determinam manutenção do pacto.

 
 

IV - Elementos do Pacto

Não há muito do que falar. Os elementos são sempre os mesmos e mutatis mutandi as observamos até hoje no que comumente chamamos de contrato: Os pactuantes, o objetivo do pacto, a garantia e as sanções.

 
 

V - Os Pactos feitos pelo SENHOR

Geralmente se fala muito ou se fala nada sobre os pactos, e tornou-se comum sermos rotulados (nós os que professamos a Fé Reformada) pejorativamente com o título de "aliancistas", em alusão ao fato de que nossa compreensão da Bíblia e da Salvação deriva-se de uma compreensão dos Pactos.

Os que evitam falar sobre pacto, crêem que essa doutrina desestimula a boa ética cristã e induz à preguiça.

Os que falam muito, procuram todos os textos que referem-se a um pacto e, sem uma visão de conjunto, banalizam essa doutrina e acabam incorrendo no mesmo erro anterior atribuindo a Deus o mesmo descaso que se vê hoje com a palavra dada.

Alguns tentaram fazer com que os pactos servissem de explicação para as diversas formas de tratamento que Deus usa ao longo da história, e criaram o que chamamos popularmente de dispensacionalismo.

Porém, examinando bem as Escrituras, chegamos apenas a 3 pactos maiores (Redenção, Obras e Graça) e a "pactos menores" (Noé, Abraão e Moisés) que visam um desenvolvimento da aplicação do Pacto da Graça.

Cada um dele será objeto de estudo. Porém, como introdução geral, podemos dizer:

1. O Pacto da Redenção - Feito entre o Pai o Filho na eternidade visando nossa salvação.

2. O Pacto das Obras - Feito com Adão antes do pecado visando, mediante sua obediência, sua salvação e de todos os seus.

3. Pacto da Graça - Feito com o "segundo Adão" visando a salvação de todos os seus.

As administrações do Pacto da Graça

1ª O Pacto com Noé - Feito com Noé visando o estabelecimento de novos padrões de vida.

2ª O Pacto com Abraão - Feito com Abraão visando o estabelecimento da Família humana do Redentor.

3ª O Pacto do Sinai - Feito com Israel visando estabelecer a sociedade e cultura em que a Redenção e o Redentor se manifestariam.

 
 

VI - Conclusão

16 Pois os homens juram pelo que lhes é superior, e o juramento, servindo de garantia, para eles, é o fim de toda contenda. 17 Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, 18 para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; 19 a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, 20 onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Hb 6.16-20

Ao pactuar conosco Deus nos dá grades lições:

1ª - Somos, por natureza, volúveis. E, com o tempo, tentados a experimentar coisas novas. E, mesmo que o passado tenha sido bom, geralmente achamos que ele poderia ter sido melhor. Para não vivermos debaixo de angústia, nem angustiarmos a quem vive conosco, pactuamos relações interpessoais que não devem mudar.

Esta é a primeira e mais importante função de um pacto entre os seres humanos.

2ª - Somos, também por natureza, suscetíveis à dúvida, e o aperfeiçoamento da vida cristã exige que "andemos pelo vale da sombra das dúvidas".

Se, um pacto, entre nós deve tirar qualquer apreensão de deserção e abandono, imagine como deve ser um pacto feito com o próprio Deus?

Pactos – 2 de 3

I - Introdução ao Assunto

Já vimos que esta é a forma pela qual Deus age e nos ensinou a agir. Já vimos que as Escrituras falam de diversos Pactos, de diversos tipos, e que, para bem os entendermos, devemos colocar cada um dentro de sua esfera de ação (Pactuantes, objetivos, etc.) e verificar como se relacionam.

Tanto a Confissão como seus Catecismos, didaticamente, abordam apenas 2 pactos: o Pacto das Obras e o Pacto da Graça. Porém, é proveitoso vermos não só os pactos menores - mediante os quais o Pacto da Graça foi administrado aos eleitos - como principalmente o Pacto da Redenção, que foi a origem de tudo, pois foi celebrado entre o Pai e o Filho.


II - O Pacto das Obras

1. Pactuantes: Deus e Adão.

2. Objetivo: Vida (eterna) a Adão e a sua posteridade.

3. Condições: Perfeita obediência às determinações do Criador.

4. Penhor: Árvore da vida

5. Sanções: Ser dominado pelo que deveria dominar.

Ao criar Adão o SENHOR seguiu determinada ordem. Primeiro criou seu habitat e atestou (6 vezes) que era bom. Mas percebeu algo que não era bom: a solidão do homem. Providenciou-lhe então uma companheira idônea. Depois deu-lhe três ordens claras, que a Fé Reformada chama de "os 3 mandatos da Criação":

a - Mandato Social: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gn 1.28).

b - Mandato Cultural: "...sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gn 1.28) e "Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar" (Gn 2.15).

c - Mandato Espiritual: "E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2.16-17).

Esses textos já são suficientes para vermos com clareza os principais elementos do Pacto das Obras.

1. Os pactuantes: O Criador e Adão. Era um pacto imposto soberana e condicionalmente pelo Criador sobre sua criatura. Além destes temos ainda um mais explícito: "Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim" (Os 6.7).

2. A ameaça de morte pressupõe o objetivo: vida. Além disso, os três mandatos nada mais são do que a descrição do objetivo: Adão deveria dominar sobre a criação, como uma espécie de "vice-rei".

3. As condições: deveriam se abster de determinada árvore no meio de tantas outras que compunham o jardim. Ou seja: obediência total.

4. O penhor é mencionado já na descrição (3.9), mas fica claro depois da quebra do Pacto, quando o Criador o interdita a Adão: "Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente. O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn 3.22-24).

5. As sanções nos mostram a extensão do que estava pactuado:

- O que hoje chamamos de ecossistema (fauna e flora).

- A biologia (dores de parto, suor do rosto),

- As relações interpessoais (marido e mulher)

- E o relacionamento espiritual (vestimentas de peles).

Somente a existência do Pacto das Obras pode explicar as palavra de Jesus ao Jovem Rico: Obedeça! Entretanto Adão, que poderia obedecer, não o fez, como poderíamos hoje cumprir perfeitamente, não só a letra mas a intenção dos mandamentos de Deus? Portanto a resposta daquele jovem não era a resposta que Jesus esperava ouvir.

Porém, para que o Pacto da Graça seja administrado a nós, há necessidade de outro, eterno, entre Deus e Cristo nosso representante.


III - O Pacto da Redenção

Embora pouco falado, devido a uma abordagem didática diferente das doutrinas sobre a soberania de Deus, o Pacto da Redenção está claro em diversos textos bíblicos:

a. Jo 17.4 "Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer"

b. Ef 1.4-5 "assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo"

c. Ef 3.11-12 "segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele"

d. 2Tm 1.8-10 "... segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus".

Veja seus elementos:

1. Pactuantes: Deus e Cristo.

2. Objetivo: Vida eterna àqueles que o Pai lhe der.

3. Condições: Perfeita obediência às determinações do Criador.

4. Penhor: Não há!

5. Sanções: Não há!

Iniciamos pensando sobre o Penhor e as Sanções. Se o Pacto é ad intra Trinitatis - entre o Pai e o Filho - que necessidade há de Penhor? Acaso o Filho deixará de fazer a vontade do Pai? Que necessidade há de estabelecimento de sanções?

Este é o pacto, do qual todos os demais são apenas sombras. E difere deles exatamente na impossibilidade de ser quebrado.

Vamos examinar então o objetivo e as condições.

Há uma grande discussão a respeito dos objetivos deste Pacto. Não há dúvida de que ele visa a restaurar o que foi perdido em Adão (e já vimos como isto é abrangente), porém no que concerne às pessoas os textos bíblicos são restritivos: limita-se apenas aqueles que Deus soberana e graciosamente concedeu ao Filho: "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" Jo 6.37

Quanto as condições, não resta a menor dúvida de que o Pai exigiu do Filho obediência total: ativamente ele fez tudo o que o Pai exigiu e passivamente ele sofreu tudo o que estava reservado.

Ativamente: Assumiu a natureza humana (Gl 4.4-5 e Hb 2.14-17).

Passivamente: cumpriu todas as demandas da lei. Até os "is" e os "tis" (Mt 5.17-18).


IV - Conclusão

O Pacto das Obras foi feito com o "primeiro Adão" - que tinha condições de cumpri-lo - e não apenas via o que deveria fazer, mas tinha capacidade de escolher e de realizar sua escolha. Entretanto, preferiu não fazê-lo. Em Adão havia um princípio que Agostinho chamou "posse non pecare".

O Pacto da Redenção foi feito com o "segundo Adão", sob condições muito mais severas e exigências superiores a simples abstinência de uma fruta. Ele sabia o que deveria fazer, mas nele habitava princípio muito superior a qualquer outro: "non posse pecare".

Os resultados do que Adão escolhesse se espalharia por toda sua descendência e os órgãos de seu corpo, bem como os de sua esposa, responsáveis pela descendência passaram a ser-lhes motivo de vergonha, pois seriam o atestado mais evidente de desobediência à missão do Criador. Explico: Se Adão tivesse obedecido sua descendência traria, no mesmo grau que ele possuía, a imagem do criador que ele trouxera ao ser formado do barro. Ele daria continuidade a obra mais importante do Criador - aliás, ele seria o que Cristo tornou-se após ressurreto e glorificado.

Como ele escolheu desobedecer a humanidade tornou-se "filhos da desobediência" e cristalizou-se nela outro princípio: "non posse non pecare".

Os resultados da obediência do segundo Adão, atingem a todos aquele a quem o Pai chamou e deu "o poder de serem chamados filhos de Deus". Por isso Jesus não se envergonha de chamar-lhes irmãos (Hb 2.11).

Os que hoje estão em Cristo, quanto a carne ainda descendem de Adão e cumprem a vontade que dele herdaram, mas quanto ao Espírito (que "... na verdade está pronto, mas a carne é fraca" - Mt 26.41) descendem de Cristo pois "vivem no Espírito" e à medida que "enchem-se cada vez mais dele", mortificam os feitos da carne.

No futuro, serão libertados da natureza do primeiro Adão e ressuscitados viverão com e para o Segundo Adão.

Pactos - 3 de 3

I - Introdução

Já vimos que Deus sempre agiu mediante pactos. Já vimos também que o "Pacto das Obras" foi quebrado por Adão, apesar de estar nas melhores condições de cumpri-lo. Já vimos também que o "Pacto da Redenção" que Deus fez com seu Filho, assegura-nos a redenção de tudo o que Adão tinha e teria se houvesse cumprido suas obrigações pactuais.

Essencialmente o pacto com Cristo é tão condicional quanto o de Adão. Porém, em Cristo não há possibilidade de quebra.

Nossa Confissão de Fé diz:

Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. (VI,III)

Ou seja: Os efeitos do pecado de nossos primeiros pais chegaram a nós por dois modos:

1. A culpa nos foi imputada por Deus (como parte fiel ao Pacto por sermos descendentes deles).

2. A corrupção da natureza chegou a nós através da geração ordinária.

Hoje veremos como ficamos livres da culpa e como ficaremos livres da corrupção de nossa natureza.

 
 

II - O Pacto da Graça

O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal.

O homem, tendo-se tornado pela sua queda incapaz de vida por esse pacto, o Senhor dignou-se fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele para que sejam salvos; e prometendo dar a todos os que estão ordenados para a vida o seu Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a crer. (CFW VII,II e III)

1. Pactuantes: Deus e aqueles que ele escolheu.

2. Objetivo: Recuperação do que Adão tinha e teria.

3. Condições: Fé (de que estão no pacto).

4. Penhor: O Espírito Santo.

5. Sanções: A morte de quem representa aqueles que Deus escolheu.

 
 

III - Aplicações do Pacto da graça

O Pacto da Graça foi administrado por Deus em etapas, conforme seus planos e conforme éramos capazes de assimilá-lo.

 
 

A - O Pacto com Noé: Na realidade a primeira aplicação do Pacto da Graça aconteceu ainda no Éden, quando Adão e sua esposa foram vestidos para tornarem-se apresentáveis diante de Deus. Porém o que poderíamos chamar de sua primeira "formalização" aconteceu muito tempo depois com Noé.

Não esqueça: o Pacto da graça é "a face visível aos homens" do Pacto da Redenção.

a. Pactuantes: Deus e Noé.

b. Objetivo: o estabelecimento de novos padrões de vida.

c. Condições: Abrigar-se na arca.

d. Penhor: O Arco-íris.

e. Sanções: A morte dos que não se abrigaram na arca.

Conquanto não haja dúvida sobre quem eram os pactuantes é bom lembrar que em Nóe estavam representados sua esposa, seus 3 filhas e suas 3 noras e conseqüentemente todos os seus descendentes até hoje.

Sobre o objetivo devemos considerar que Gn 6.1-13, onde é exposta a maldade dos "antediluvianos". Em, pelo menos, 3 lugares (v5, 11 e 12) alude-se explicitamente à violência e corrupção deles e no v3 declara-se que Deus decidiu limitar sua expectativa de vida a 120 anos.

As condições não poderiam ser mais simples (entretanto já apontavam para o princípio que se repetirá em toda administração do Pacto da Graça): a Fé.

Durante mais de 100 anos Noé trabalhou na construção da arca (compare 5.32 com 7.6). Ele creu em Deus: tanto no juízo anunciado quanto no meio de salvação estabelecido.

A respeito do penhor parece que não havia arco-íris antes do dilúvio (isso implica que a primeira chuva já foi o dilúvio: Gn 2.5-6).

No que diz respeito as sanções não há muito o que discutir, pois
foram aplicadas aos que se recusaram a entrar na arca: morte.

1. Com o dilúvio Deus estabeleceu um recomeço:

- A terra coberta de águas ficou na mesma situação que estava no início da criação Gn 1.2.

- O homem agora possuía esposa e filhos, mas ainda é o responsável era quem Deus se dirigia.

2. Como Adão pecou pela comida Noé pecou pela bebida, mas seu pecado não foi imputado a seus filhos: Eles mesmo pecaram: Cam, desonrou a seu pai, vendo-lhe a nudez e também divulgando-a a seus irmãos (para se entender a gravidade disso temos que deixar de lado nossa cultura).

A natureza pecadora que herdaram de Adão não foi regenerada pelo dilúvio. O dilúvio não tinha por objetivo regenerar ninguém, mas possibilitar um novo começo através daquele que creu (e obedeceu) e eliminar os maus. O que não deixa de ser uma lição para as idéias de eugenia de nossos dias. Deus está mostrando que não se vence a maldade humana acabando com os piores, pois ela está presente em todos.

3. Do que aconteceu a Adão permanece até nossos dias: O casamento, a obrigação de cultivar o Jardim de Deus, o suor, os cardos e abrolhos, as dores de parto, a luta entre os sexos, e a promessa de libertação pelo descendente da mulher.

Do que aconteceu a Noé acrescentou-se: O arco-íris, as estações do ano, o novo limite dos dias do homem, a determinação de morte a quem tirar uma vida, e a promessa de que a terra não será mais destruída pelas águas.

4. O Pacto da Graça está presente: Noé nada mereceu e foi salvo: ele e seus filhos. A Arca já é um tipo do "Descendente da mulher" que os salva do juízo divino e a graça se torna mais clara.

 
 

B - O Pacto com Abraão: Deus, de toda humanidade, escolheu a Noé. De seus três filhos escolheu Sem (a etnia da qual o "Descendente da mulher" se manifestaria. E, dos vários povos semitas (descendentes de Sem), escolheu a família de Abraão, que, dentro dela, ainda sofreria outras escolhas ao longo dos tempos.

Apesar da história de Abraão, em sua totalidade, ter um sabor de Pacto, o relato da celebração dele é Gn 15.

a. Pactuantes: Deus e Abraão.

b. Objetivo: o estabelecimento da família da qual provinha o Redentor.

c. Condições: Crer.

d. Penhor: Juramento divino.

e. Sanções: Eliminação.

Não há dúvidas sobre os pactuantes e sobre o objetivo do Pacto, porém é necessário examinar melhor os demais elementos.

Há que se notar que a condição "crer" já aponta, desde Noé, para a necessidade de obedecer. Não adiantaria nada a ele crer que o mundo de então pereceria, enquanto ele e os seus seriam salvos, se não obedecesse a ordem de entrar na arca.

Essa dualidade é agravada no Pacto com Abraão, em que, por crerem obedeciam a ordem e circuncidavam-se, e será agravada cada vez mais.

Sobre o penhor: a Bíblia responde:" Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo Hb 6.13".

Sobre as sanções, temos de considerar que os animais partidos ao meio em Gn 15.10, já apontavam para o castigo. Porém, Gn 17.11-14 explicita melhor o assunto.

1. Com Noé, o SENHOR estabeleceu novos princípios que obrigam toda humanidade, até os dias de hoje, e que na realidade são a base da Graça Comum, mediante a qual "ele faz vir chuvas sobre bons e maus e levanta seu sol sobre justos e injustos". Com Abraão o SENHOR estabeleceu um acordo restrito a sua família: "em Isaque será chamada a tua descendência".

2. Apesar dos vários pecados de Abraão, que as Escrituras não escondem, Deus permaneceu fiel a sua promessa.

3. Já vimos que de Adão permanece até nossos dias diversos encargos que foram agravados com Noé. De Abraão permanece apenas a Fé (que é manifestada pela obediência).

4. O Pacto da Graça continua presente. Nem Adão, nem Noé, nem Abraão, mereceram coisa alguma. Apenas encontraram graça diante de Deus. O primeiro recebeu roupas, o segundo uma arca e o terceiro um sinal (a circuncisão) no membro de seu corpo que fala de sua maior intimidade (como se Deus o alertasse que é senhor de todas as coisas até da mais oculta) e de sua descendência.

 
 

C - O Pacto do Sinai: Feito com Israel após sua saída do Egito.

a. Pactuantes: Deus e "Israel".

b. Objetivo: estabelecer a sociedade e cultura em que a Redenção e o Redentor se manifestariam.

c. Condições: Crer.

d. Penhor: o Tabernáculo (com a Arca da Aliança).

e. Sanções: Eliminação.

À medida em que o Povo de Deus ficava mais cônscio, amadurecia e ganhava novos instrumentos de pensar (como a escrita), a administração dos pactos ficou mais "sofisticada".

Não é causa de admiração, pois à medida que a sombra aproxima-se do objeto fica mais definida, até que só reste o objeto. Os pactos bíblicos apresentam esse tipo de progressão até encontrarem-se com a materialização do Pacto da Redenção: a Obra do Redentor.

Quando pensamos então sobre os pactuantes, temos de concluir que foi um pacto celebrado entre Deus e o Povo que ele tirou graciosamente do Egito (note que isto já estava previsto no Pacto com Abraão: Gn 15 .13-16). Porém, aparece uma figura nova: o mediador.

Moisés é o mediador deste Pacto (já apontando para a Verdadeiro Mediador, do pacto do qual este é o antítipo).

Moisés representava ambas as partes: Deus perante Israel e Israel perante Deus.

Observe como gradualmente os pactos apontam de forma mais nítida para figura de Cristo, o verdadeiro Pactuante, do verdadeiro Pacto feito antes de todos os tempos.

A cultura na qual o Redentor se manifestaria era normatizada em 3 aspectos:

- vida civil (que equivalia ao nosso código civil e foi por ele substituído),

- ordem do culto (que prefigurava a obra do Redentor e por isso mesmo caducou)

- e preceitos morais (que ainda vigoram).

O objetivo era ensinar principalmente sobre a justiça de Deus.

Como o homem haveria de entender a Graça de Deus, resultante do Pacto da Redenção, se as sanções de Deus eram atenuadas pelo embotamento que o pecado causa no raciocínio e pela facilidade que o pecador tem de se acomodar à perversão?

Considerando que era uma raça que já tem idéia do que é um Pacto e sabe o valor da retribuição desde o Pacto com Noé, e que sabe, também, através do Pacto com Abraão, que foi escolhida e está sendo libertada, Deus majora suas exigências a fim de que entendam, do melhor modo possível, o que seria a Obra do Redentor.

Fica claro então o significado de:

- Dt 6.4-5: Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças,

- Lv 19.18: Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.

As condições eram Fé e Obediência. Deviam obedecer a Deus por que criam que Deus tinha um pacto com eles.

Quanto ao penhor não há dúvida de que era o que Deus deixou de si entre eles: O tabernáculo (com a arca da Aliança).

Esse penhor já aponta para a encarnação do Redentor. Simbolizava seu corpo. O próprio Jesus deixou claro: "... Derribai este santuário, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do santuário do seu corpo. Quando, pois ressurgiu dentre os mortos, seus discípulos se lembraram de que dissera isto, e creram na Escritura, e na palavra que Jesus havia dito" Jo 2.19-22.

Sobre as sanções não há a menor dúvida que era a eliminação do faltoso, pois quem as assumiu, o Redentor, foi eliminado em todas os sentidos possíveis: "Meu Deus, por que me desamparastes"?


 

IV - Conclusão

Outros Pactos foram feitos com Davi, Finéias, etc. Porém estes 3 pactos nos mostram de forma muito clara como Pacto da graça foi administrado por Deus a um povo que levou milênios para assumir uma forma nacional e ter consciência do que fora feito por eles.

Estes três pactos pressupunham obrigações que orbitavam em torno de um centro: crer-se parte de um pacto imerecido, gratuito, imutável.

Finalizada a obra do Redentor, o Pacto da Redenção é aplicado diretamente na história humana. É escrito nos corações:

Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá, não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, esse meu pacto que eles invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniqüidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados. Jr 31.31-34

O SENHOR tem um pacto conosco. Nunca duvidemos disso pois nisso repousam as promessas, isso alenta fé e conforta a alma e dá-nos a segurança necessária para viver em Cristo.

24.4.07

A mordomia Cristã expressa através do dízimo

Introdução ao tema

Falar de dízimo faz com que muitos cristãos pensem ou na exploração que se vê nos dias de hoje, ou na frase “dízimo é coisa do Antigo Testamento”.

Os pastores mais cuidadosos com a qualidade do Rebanho sofrem um dilema muito grande: Por um lado sabem que uma das maiores bênçãos para a vida cristã é o exercício espiritual que o dízimo proporciona, por outro lado, envergonhados do que se faz com o Evangelho (embora não se envergonhem dele), receiam falar constantemente deste assunto.

Vivemos o cumprimento da profecia, “farão comércio de vós”. Você já se deu conta qual é a mercadoria vendida?

É com temor e tremor, portanto, que, atendendo à decisão do Conselho de nossa Igreja, apresento essas lições para nossa Escola Dominical, contando desde já com suas orações.


Introdução a esta primeira lição
Ao longo da história a Igreja tem se utilizado das mais diversas formas de prover os recursos de que necessita para realizar sua missão.

Vemos claramente descrito em Atos o modo pelo qual a Igreja de Jerusalém encontrou para fazer frente as despesas que 8 mil pessoas trouxeram em questão de poucos dias após o dia de pentecostes: cada um vendia suas posses e colocava aos pés dos apóstolos. Se despatrimonializaram em tão pouco tempo que houve necessidade de Paulo fazer coletas entre as Igrejas gentílicas em prol deles.

Quando o imperador Constantino a declarou igreja oficial do Império Romano, todos os bens dos tempos pagãos foram confiscados e entregues a ela.

Seus líderes logo se viram em uma situação inusitada: deixaram de ser perseguidos e, ainda por cima, ganharam uma fortuna incalculável em terras, edifícios, tesouros e outras coisas mais. É claro que, os que trataram de ficar mais próximos de Constantino, ou os mais bem relacionados dentro de sua corte, como também os que detinham uma posição, seja geográfica ou politicamente, mais estratégica, receberam maior quinhão. O que dizer daqueles que tiveram capacidade de mobilizar mais rapidamente tropas em auxílio do exército do imperador?

O modo de financiamento das despesas da Igreja na época de Constantino era, portanto, a busca de dinheiro do estado (o que, de certa forma ainda perdura na mente de muitos cristãos) ou, a administração do que haviam recebido por patrimônio, através de arrendamento de terras.

Esse sistema perdurou até a Reforma Protestante do Séc. XVI, e, de certa forma, ainda pode ser encontrado naquelas Igrejas que possuem propriedades (sistema muito comum na Igreja de Roma).

Porém, em nenhum destes séculos a prática do dízimo foi completamente abandonada. Entretanto ele era sempre visto como um “imposto” a que a Igreja tinha direito e era cobrado mais dos governos do que das pessoas.

Com a Reforma Protestante houve divergências a respeito de como levantar os recursos. Nunca foi questionado, nem mesmo pela Reforma, a prática das ofertas voluntárias. Pelo contrário, para muitos era o método de contribuição mais adequado à Igreja.

Porém as Igrejas que aderiam a reforma, geralmente ficavam sem os bens, além do templo, que lhe garantiam recursos, e surgiram outras práticas, como a de rateio de despesas ou de aluguéis de bancos para as famílias daquela igreja local.

Eu mesmo, já convivi, há 10 anos atrás, quando licenciado para fazer o mestrado, em uma Igreja que rateava o orçamento anual, entre as famílias, conforme a capacidade financeira de cada uma.
Em algumas nações em que as Igrejas Reformadas são a “religião oficial”, até hoje, seus cidadãos, ao declararem seus “impostos de renda” especificam para onde o governo deve remeter os 10% daquilo que têm a pagar.


1. O homem é um mordomo
Provavelmente tenhamos que nos desfazer da imagem do mordomo que a literatura e os filmes colocaram em nossa cabeça. Nada mais distante do que é ensinado pela palavra de Deus.
A única analogia, que provavelmente possa ser feita, é a de que o dono da casa entrega a seu mordomo o valor necessário para que tudo, desde a compra de talheres até a contratação de funcionários, seja feita por ele. Ou seja: o mordomo administra a casa de seu senhor de modo a não lhe trazer aborrecimentos.

Fomos criados para ser mordomos de Deus. Sob nossa responsabilidade Deus colocou tudo o que fez. Veja Gn 1.26a30 e Gn 2.7a25.

Neste texto recebemos três funções básicas a que os teólogos chamam de “mandatos”:

Espiritual:
- “à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou” - Gn 1.27
- “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” - Gn 2.7


Social:
- “e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos”
- “Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” - Gn 2.21a24

Cultural:
- “enchei a terra e sujeitai-a dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.”
- “E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal. E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços. O primeiro chama-se Pisom; é o que rodeia a terra de Havilá, onde há ouro. O ouro dessa terra é bom; também se encontram lá o bdélio e a pedra de ônix. O segundo rio chama-se Giom; é o que circunda a terra de Cuxe. O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates. Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.”


Observe:
- Do mandato espiritual derivava-se tudo, pois sendo o único a deter a “imagem de Deus” e compartilhar de “seu fôlego” - bela figura do Espírito Santo - o homem era o elo entre o restante da criação e o próprio Deus. Na linguagem teológica ele era seu regente.
- Do mandato social, derivava-se o relacionamento do homem com seu semelhante, a partir do núcleo de sua família: o relacionamento com a esposa. Ela lhe era idônea e tal relacionamento era sempre o núcleo de uma nova família que viesse a ser constituída.
- Do mandato cultural, deriva-se o relacionamento do homem com o meio-ambiente, e, fica clara que sua área de atuação não estava restrita, pois, apesar de falar de árvores, de mineração de ouro, de pedras preciosas, de cultivo e guarda (zelo), o jardim não deixa de ser do Senhor. O homem foi colocado nele para cuidar dele.


2. O homem continua a ser um mordomo
Apesar de ter sido afetado pelo pecado, e degradado os três mandatos que recebeu, Deus não retirou do homem suas incumbências originais.

A imagem de Deus foi deformada a tal ponto que dela sobrou aquilo que torna o homem diferente dos animais, comprometendo a execução do mandato espiritual. Somente pela Graça Comum (Graça de Deus que é comum a todos os homens, mediante a qual ele faz vir chuvas sobre bons e maus), e, especialmente, se for regenerado por Cristo esse mandato volta a ser exercido.

Se os outros dois mandatos dependiam desse, você pode calcular o quanto eles foram afetados. Aliás, é fácil de perceber isto: olhe para a sociedade e veja como o mandato social está sendo cumprido. Olhe para o ecossistema e veja como o mandato cultural está sendo cumprido.

O pecado atingiu o homem em seu relacionamento com Deus. Gn 3.8:
- “Quando ouviram a voz do SENHOR Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do SENHOR Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim”

O pecado atingiu o homem em seu relacionamento com a esposa. Gn 3.12:
- “Então, disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.”

O pecado atingiu o homem em seu relacionamento com seu habitat.
- “maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.” Gn 3.17

O pecado atingiu tantas outras coisas, inclusive partes constitutivas do homem como sua biologia (dores de parto para mulher, suor para o trabalho...), que os reformadores cunharam a expressão “Totalmente depravado” significando que o homem foi atingido na totalidade de seu ser (não intensamente depravado, pois aí significaria a perda completa da imagem de Deus, mas extensamente depravado, pois não ficou área alguma de seu ser que não fosse atingido pelo pecado.

Entretanto, isso não o exime de cumprir as funções para as quais Deus o fez. Ele perdeu o privilégio de cuidar do “jardim de Deus”, mas ainda tem a obrigação de cuidar da “criação de Deus”, como Deus quer que ela seja cuidada.

Deus cobrará seu desleixo. Começará por seu relacionamento com ele, e não deixará de fora seu relacionamento com o próximo (a partir de sua esposa), nem com o meio-ambiente.


3. Só o Remido pode exercer corretamente a mordomia
Você se lembra de que todos os mandatos dependiam do mandato espiritual? Este é o primeiro a ser recuperado em Cristo.

Redimido, o homem é chamado a relacionar-se com Deus. Sua velha natureza (a carne), o mundo e o mais interessado em que ele fique longe de Deus o atrapalham a tal ponto que ele, na maioria das vezes, perde o rumo.

Apesar de ter acesso ao Criador, e poder cuidar novamente do “jardim de Deus” ele dá mais ouvidos às sandices de seus 3 inimigos, do que a Palavra do próprio Deus e resolve fazer as coisas como ele “acha” que devem ser feitas.

Entretanto ele é o único para quem a Palavra de Deus faz sentido, e o único que pode aplicá-la, e o único de quem o Criador (agora Redentor), aceitará serviço.

Somente ele sabe que tudo o que possui não é seu. Somente ele sabe que, mais do que nunca a criação de Deus precisa de cuidados.

Somente ele sabe que Deus continua demandando dele esta missão.


Conclusão
Os que possuem a “mente de Cristo” sabem quais são as prioridades de Deus e o modo como Deus quer que seu “jardim” seja cuidado. Não caberia neste papel a quantidade de textos que mostram essas prioridades. Mas como é necessário selecionar, creio que estes mostrarão bem e as próximas 3 lições procurarão deixar bem claro o que e como podemos e devemos fazer.

Coração voluntário - “2Co 8.3 Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, 4 pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. 5 E não somente fizeram como nós esperávamos, mas também deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor, depois a nós, pela vontade de Deus”

Responsabilidade - “Tg 2.15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, 16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? 17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.”

Na presença de Deus - “2Co 9.6 E isto afirmo: aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. 7 Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. 8 Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra, 9 como está escrito: Distribuiu, deu aos pobres, a sua justiça permanece para sempre.