26.7.07

Pactos - 3 de 3

I - Introdução

Já vimos que Deus sempre agiu mediante pactos. Já vimos também que o "Pacto das Obras" foi quebrado por Adão, apesar de estar nas melhores condições de cumpri-lo. Já vimos também que o "Pacto da Redenção" que Deus fez com seu Filho, assegura-nos a redenção de tudo o que Adão tinha e teria se houvesse cumprido suas obrigações pactuais.

Essencialmente o pacto com Cristo é tão condicional quanto o de Adão. Porém, em Cristo não há possibilidade de quebra.

Nossa Confissão de Fé diz:

Sendo eles o tronco de toda a humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária. (VI,III)

Ou seja: Os efeitos do pecado de nossos primeiros pais chegaram a nós por dois modos:

1. A culpa nos foi imputada por Deus (como parte fiel ao Pacto por sermos descendentes deles).

2. A corrupção da natureza chegou a nós através da geração ordinária.

Hoje veremos como ficamos livres da culpa e como ficaremos livres da corrupção de nossa natureza.

 
 

II - O Pacto da Graça

O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e nele à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal.

O homem, tendo-se tornado pela sua queda incapaz de vida por esse pacto, o Senhor dignou-se fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo deles a fé nele para que sejam salvos; e prometendo dar a todos os que estão ordenados para a vida o seu Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a crer. (CFW VII,II e III)

1. Pactuantes: Deus e aqueles que ele escolheu.

2. Objetivo: Recuperação do que Adão tinha e teria.

3. Condições: Fé (de que estão no pacto).

4. Penhor: O Espírito Santo.

5. Sanções: A morte de quem representa aqueles que Deus escolheu.

 
 

III - Aplicações do Pacto da graça

O Pacto da Graça foi administrado por Deus em etapas, conforme seus planos e conforme éramos capazes de assimilá-lo.

 
 

A - O Pacto com Noé: Na realidade a primeira aplicação do Pacto da Graça aconteceu ainda no Éden, quando Adão e sua esposa foram vestidos para tornarem-se apresentáveis diante de Deus. Porém o que poderíamos chamar de sua primeira "formalização" aconteceu muito tempo depois com Noé.

Não esqueça: o Pacto da graça é "a face visível aos homens" do Pacto da Redenção.

a. Pactuantes: Deus e Noé.

b. Objetivo: o estabelecimento de novos padrões de vida.

c. Condições: Abrigar-se na arca.

d. Penhor: O Arco-íris.

e. Sanções: A morte dos que não se abrigaram na arca.

Conquanto não haja dúvida sobre quem eram os pactuantes é bom lembrar que em Nóe estavam representados sua esposa, seus 3 filhas e suas 3 noras e conseqüentemente todos os seus descendentes até hoje.

Sobre o objetivo devemos considerar que Gn 6.1-13, onde é exposta a maldade dos "antediluvianos". Em, pelo menos, 3 lugares (v5, 11 e 12) alude-se explicitamente à violência e corrupção deles e no v3 declara-se que Deus decidiu limitar sua expectativa de vida a 120 anos.

As condições não poderiam ser mais simples (entretanto já apontavam para o princípio que se repetirá em toda administração do Pacto da Graça): a Fé.

Durante mais de 100 anos Noé trabalhou na construção da arca (compare 5.32 com 7.6). Ele creu em Deus: tanto no juízo anunciado quanto no meio de salvação estabelecido.

A respeito do penhor parece que não havia arco-íris antes do dilúvio (isso implica que a primeira chuva já foi o dilúvio: Gn 2.5-6).

No que diz respeito as sanções não há muito o que discutir, pois
foram aplicadas aos que se recusaram a entrar na arca: morte.

1. Com o dilúvio Deus estabeleceu um recomeço:

- A terra coberta de águas ficou na mesma situação que estava no início da criação Gn 1.2.

- O homem agora possuía esposa e filhos, mas ainda é o responsável era quem Deus se dirigia.

2. Como Adão pecou pela comida Noé pecou pela bebida, mas seu pecado não foi imputado a seus filhos: Eles mesmo pecaram: Cam, desonrou a seu pai, vendo-lhe a nudez e também divulgando-a a seus irmãos (para se entender a gravidade disso temos que deixar de lado nossa cultura).

A natureza pecadora que herdaram de Adão não foi regenerada pelo dilúvio. O dilúvio não tinha por objetivo regenerar ninguém, mas possibilitar um novo começo através daquele que creu (e obedeceu) e eliminar os maus. O que não deixa de ser uma lição para as idéias de eugenia de nossos dias. Deus está mostrando que não se vence a maldade humana acabando com os piores, pois ela está presente em todos.

3. Do que aconteceu a Adão permanece até nossos dias: O casamento, a obrigação de cultivar o Jardim de Deus, o suor, os cardos e abrolhos, as dores de parto, a luta entre os sexos, e a promessa de libertação pelo descendente da mulher.

Do que aconteceu a Noé acrescentou-se: O arco-íris, as estações do ano, o novo limite dos dias do homem, a determinação de morte a quem tirar uma vida, e a promessa de que a terra não será mais destruída pelas águas.

4. O Pacto da Graça está presente: Noé nada mereceu e foi salvo: ele e seus filhos. A Arca já é um tipo do "Descendente da mulher" que os salva do juízo divino e a graça se torna mais clara.

 
 

B - O Pacto com Abraão: Deus, de toda humanidade, escolheu a Noé. De seus três filhos escolheu Sem (a etnia da qual o "Descendente da mulher" se manifestaria. E, dos vários povos semitas (descendentes de Sem), escolheu a família de Abraão, que, dentro dela, ainda sofreria outras escolhas ao longo dos tempos.

Apesar da história de Abraão, em sua totalidade, ter um sabor de Pacto, o relato da celebração dele é Gn 15.

a. Pactuantes: Deus e Abraão.

b. Objetivo: o estabelecimento da família da qual provinha o Redentor.

c. Condições: Crer.

d. Penhor: Juramento divino.

e. Sanções: Eliminação.

Não há dúvidas sobre os pactuantes e sobre o objetivo do Pacto, porém é necessário examinar melhor os demais elementos.

Há que se notar que a condição "crer" já aponta, desde Noé, para a necessidade de obedecer. Não adiantaria nada a ele crer que o mundo de então pereceria, enquanto ele e os seus seriam salvos, se não obedecesse a ordem de entrar na arca.

Essa dualidade é agravada no Pacto com Abraão, em que, por crerem obedeciam a ordem e circuncidavam-se, e será agravada cada vez mais.

Sobre o penhor: a Bíblia responde:" Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo Hb 6.13".

Sobre as sanções, temos de considerar que os animais partidos ao meio em Gn 15.10, já apontavam para o castigo. Porém, Gn 17.11-14 explicita melhor o assunto.

1. Com Noé, o SENHOR estabeleceu novos princípios que obrigam toda humanidade, até os dias de hoje, e que na realidade são a base da Graça Comum, mediante a qual "ele faz vir chuvas sobre bons e maus e levanta seu sol sobre justos e injustos". Com Abraão o SENHOR estabeleceu um acordo restrito a sua família: "em Isaque será chamada a tua descendência".

2. Apesar dos vários pecados de Abraão, que as Escrituras não escondem, Deus permaneceu fiel a sua promessa.

3. Já vimos que de Adão permanece até nossos dias diversos encargos que foram agravados com Noé. De Abraão permanece apenas a Fé (que é manifestada pela obediência).

4. O Pacto da Graça continua presente. Nem Adão, nem Noé, nem Abraão, mereceram coisa alguma. Apenas encontraram graça diante de Deus. O primeiro recebeu roupas, o segundo uma arca e o terceiro um sinal (a circuncisão) no membro de seu corpo que fala de sua maior intimidade (como se Deus o alertasse que é senhor de todas as coisas até da mais oculta) e de sua descendência.

 
 

C - O Pacto do Sinai: Feito com Israel após sua saída do Egito.

a. Pactuantes: Deus e "Israel".

b. Objetivo: estabelecer a sociedade e cultura em que a Redenção e o Redentor se manifestariam.

c. Condições: Crer.

d. Penhor: o Tabernáculo (com a Arca da Aliança).

e. Sanções: Eliminação.

À medida em que o Povo de Deus ficava mais cônscio, amadurecia e ganhava novos instrumentos de pensar (como a escrita), a administração dos pactos ficou mais "sofisticada".

Não é causa de admiração, pois à medida que a sombra aproxima-se do objeto fica mais definida, até que só reste o objeto. Os pactos bíblicos apresentam esse tipo de progressão até encontrarem-se com a materialização do Pacto da Redenção: a Obra do Redentor.

Quando pensamos então sobre os pactuantes, temos de concluir que foi um pacto celebrado entre Deus e o Povo que ele tirou graciosamente do Egito (note que isto já estava previsto no Pacto com Abraão: Gn 15 .13-16). Porém, aparece uma figura nova: o mediador.

Moisés é o mediador deste Pacto (já apontando para a Verdadeiro Mediador, do pacto do qual este é o antítipo).

Moisés representava ambas as partes: Deus perante Israel e Israel perante Deus.

Observe como gradualmente os pactos apontam de forma mais nítida para figura de Cristo, o verdadeiro Pactuante, do verdadeiro Pacto feito antes de todos os tempos.

A cultura na qual o Redentor se manifestaria era normatizada em 3 aspectos:

- vida civil (que equivalia ao nosso código civil e foi por ele substituído),

- ordem do culto (que prefigurava a obra do Redentor e por isso mesmo caducou)

- e preceitos morais (que ainda vigoram).

O objetivo era ensinar principalmente sobre a justiça de Deus.

Como o homem haveria de entender a Graça de Deus, resultante do Pacto da Redenção, se as sanções de Deus eram atenuadas pelo embotamento que o pecado causa no raciocínio e pela facilidade que o pecador tem de se acomodar à perversão?

Considerando que era uma raça que já tem idéia do que é um Pacto e sabe o valor da retribuição desde o Pacto com Noé, e que sabe, também, através do Pacto com Abraão, que foi escolhida e está sendo libertada, Deus majora suas exigências a fim de que entendam, do melhor modo possível, o que seria a Obra do Redentor.

Fica claro então o significado de:

- Dt 6.4-5: Ouve, ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças,

- Lv 19.18: Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.

As condições eram Fé e Obediência. Deviam obedecer a Deus por que criam que Deus tinha um pacto com eles.

Quanto ao penhor não há dúvida de que era o que Deus deixou de si entre eles: O tabernáculo (com a arca da Aliança).

Esse penhor já aponta para a encarnação do Redentor. Simbolizava seu corpo. O próprio Jesus deixou claro: "... Derribai este santuário, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do santuário do seu corpo. Quando, pois ressurgiu dentre os mortos, seus discípulos se lembraram de que dissera isto, e creram na Escritura, e na palavra que Jesus havia dito" Jo 2.19-22.

Sobre as sanções não há a menor dúvida que era a eliminação do faltoso, pois quem as assumiu, o Redentor, foi eliminado em todas os sentidos possíveis: "Meu Deus, por que me desamparastes"?


 

IV - Conclusão

Outros Pactos foram feitos com Davi, Finéias, etc. Porém estes 3 pactos nos mostram de forma muito clara como Pacto da graça foi administrado por Deus a um povo que levou milênios para assumir uma forma nacional e ter consciência do que fora feito por eles.

Estes três pactos pressupunham obrigações que orbitavam em torno de um centro: crer-se parte de um pacto imerecido, gratuito, imutável.

Finalizada a obra do Redentor, o Pacto da Redenção é aplicado diretamente na história humana. É escrito nos corações:

Eis que os dias vêm, diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá, não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, esse meu pacto que eles invalidaram, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o pacto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinarão mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior, diz o Senhor; pois lhes perdoarei a sua iniqüidade, e não me lembrarei mais dos seus pecados. Jr 31.31-34

O SENHOR tem um pacto conosco. Nunca duvidemos disso pois nisso repousam as promessas, isso alenta fé e conforta a alma e dá-nos a segurança necessária para viver em Cristo.

Nenhum comentário: