26.7.07

Pactos – 1 de 3

I - Introdução ao Assunto

Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como ao seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto. (CFW VII, I)

Deus, por sua própria natureza, age através de pactos. Foi assim desde a eternidade, pois antes "da fundação do mundo" nossa redenção já era objeto de pacto entre o Pai o Filho. Foi assim que ele agiu com nossos primeiros pais e é assim que ele age conosco hoje.

Este estudo não tem a pretensão de exaurir o assunto, mas, se através dele, você passar a ver-se pactuante com o próprio Deus e perceber que nada em sua vida está fora de tal pacto, ficarei satisfeito.

 
 

II - Introdução a esta lição

Aprendemos a noção de pacto com o próprio Deus. Aliás, ele a imprimiu em nossa constituição: somos seres gregários em todos os sentidos da palavra e não sabemos viver só. O isolamento e a segregação, bem como a misantropia e a misoginia é uma exceção tão notável que na maioria das vezes é sintoma de doenças. A vida gregária pressupõe pactos - alguns mais rígidos do que outros - mas eles estão presentes em tudo o que fazemos.

Pactuamos desde nossa vida nacional à mais simples obrigação de cumprimentar alguém que cruza nosso caminho. E curiosamente diante do desafio que atinge nosso planeta como um todo – o aquecimento global – já sentimos falta de um pacto supranacional que proteja a humanidade.

Quando substituímos a vida pactual por qualquer outro tipo de comportamento, experimentamos insegurança, instabilidade e esfacelamento de nossas perspectivas.

Mas, antes os pactos eram mais claramente celebrados e observados do que hoje. Todos já ouvimos da "palavra empenhada" ou do "fio de bigode".

Antes a rigidez era ainda maior - especialmente nos tempos bíblicos - e uma das características de nossos dias e dos dias futuros, é exatamente a frouxidão das relações pactuais.

A Palavra de Deus diz claramente que os homens dos últimos dias (e já vimos que isto se refere ao período entre o Pentecostes e a volta do Senhor) se caracterizarão por muitas coisas dentre elas a "perfídia": Literalmente "quebra de pactos" (Rm 1.31).

 
 

III - Tipos de Pacto

Nos tempos bíblicos usava-se três diferentes tipos de pactos, a que os estudiosos deram o nome de: Concessão Real , Soberania e vassalagem e Paridade.

1º "Concessão Real" - Era uma espécie de prêmio incondicional que um soberano concedia a um servo por bons serviços prestados.

Quando Deus avisou a Israel os direitos que um rei teria sobre eles mencionou este costume: "E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos" 1Sm 8.14.

Saul também faz menção dele: "disse Saul a todos os seus criados que estavam com ele: Ouvi, peço-vos, filhos de Benjamim, dar-vos-á também o filho de Jessé, a todos vós, terras e vinhas..." 1Sm 22.7.

E, baseado nesse costume, Davi pede a Aquis um terreno: "...Se eu tenho achado graça em teus olhos, dá-me lugar numa das cidades da terra, para que ali habite ... Então lhe deu Aquis, naquele dia, a cidade de Ziclague (por isso Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao dia de hoje)" 1Sm 27.5e6.

Observe que o mesmo costume era observado fora de Israel: "Naquele mesmo dia deu o rei Assuero à rainha Ester a casa de Hamã ..." Et 8.1.

Podemos até não ver tal costume nos dias de hoje com uma espécie de pacto, mas naqueles dias era algo que estabelecia um relacionamento mais forte entre o soberano e o servo.

2º "Soberania e vassalagem" - Acontecia entre reis. Um poderoso tomava outro como seu vassalo, sob determinadas condições.

Um bom exemplo disso é o que os Gibeonitas fizeram (Js 9), e a parábola das "Duas Águias e da Videira" só se sustenta se admitirmos a existência deste tipo de pacto (Ex 17).

3º Paridade - Este está presente nas mais diversas passagens bíblicas e refere-se basicamente aos acordos que conhecemos até hoje, em que duas partes idôneas, espontaneamente, se obrigam a determinadas condições visando um fim que as atenda. Este tipo de pacto é sempre condicional.

De tudo isso o mais importante é destacar que apenas o primeiro tipo de pacto é incondicional e visa fortalecer as relações de um servo com seu senhor. Nos demais as condições determinam manutenção do pacto.

 
 

IV - Elementos do Pacto

Não há muito do que falar. Os elementos são sempre os mesmos e mutatis mutandi as observamos até hoje no que comumente chamamos de contrato: Os pactuantes, o objetivo do pacto, a garantia e as sanções.

 
 

V - Os Pactos feitos pelo SENHOR

Geralmente se fala muito ou se fala nada sobre os pactos, e tornou-se comum sermos rotulados (nós os que professamos a Fé Reformada) pejorativamente com o título de "aliancistas", em alusão ao fato de que nossa compreensão da Bíblia e da Salvação deriva-se de uma compreensão dos Pactos.

Os que evitam falar sobre pacto, crêem que essa doutrina desestimula a boa ética cristã e induz à preguiça.

Os que falam muito, procuram todos os textos que referem-se a um pacto e, sem uma visão de conjunto, banalizam essa doutrina e acabam incorrendo no mesmo erro anterior atribuindo a Deus o mesmo descaso que se vê hoje com a palavra dada.

Alguns tentaram fazer com que os pactos servissem de explicação para as diversas formas de tratamento que Deus usa ao longo da história, e criaram o que chamamos popularmente de dispensacionalismo.

Porém, examinando bem as Escrituras, chegamos apenas a 3 pactos maiores (Redenção, Obras e Graça) e a "pactos menores" (Noé, Abraão e Moisés) que visam um desenvolvimento da aplicação do Pacto da Graça.

Cada um dele será objeto de estudo. Porém, como introdução geral, podemos dizer:

1. O Pacto da Redenção - Feito entre o Pai o Filho na eternidade visando nossa salvação.

2. O Pacto das Obras - Feito com Adão antes do pecado visando, mediante sua obediência, sua salvação e de todos os seus.

3. Pacto da Graça - Feito com o "segundo Adão" visando a salvação de todos os seus.

As administrações do Pacto da Graça

1ª O Pacto com Noé - Feito com Noé visando o estabelecimento de novos padrões de vida.

2ª O Pacto com Abraão - Feito com Abraão visando o estabelecimento da Família humana do Redentor.

3ª O Pacto do Sinai - Feito com Israel visando estabelecer a sociedade e cultura em que a Redenção e o Redentor se manifestariam.

 
 

VI - Conclusão

16 Pois os homens juram pelo que lhes é superior, e o juramento, servindo de garantia, para eles, é o fim de toda contenda. 17 Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento, 18 para que, mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta; 19 a qual temos por âncora da alma, segura e firme e que penetra além do véu, 20 onde Jesus, como precursor, entrou por nós, tendo-se tornado sumo sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Hb 6.16-20

Ao pactuar conosco Deus nos dá grades lições:

1ª - Somos, por natureza, volúveis. E, com o tempo, tentados a experimentar coisas novas. E, mesmo que o passado tenha sido bom, geralmente achamos que ele poderia ter sido melhor. Para não vivermos debaixo de angústia, nem angustiarmos a quem vive conosco, pactuamos relações interpessoais que não devem mudar.

Esta é a primeira e mais importante função de um pacto entre os seres humanos.

2ª - Somos, também por natureza, suscetíveis à dúvida, e o aperfeiçoamento da vida cristã exige que "andemos pelo vale da sombra das dúvidas".

Se, um pacto, entre nós deve tirar qualquer apreensão de deserção e abandono, imagine como deve ser um pacto feito com o próprio Deus?

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