26.7.07

Pactos – 2 de 3

I - Introdução ao Assunto

Já vimos que esta é a forma pela qual Deus age e nos ensinou a agir. Já vimos que as Escrituras falam de diversos Pactos, de diversos tipos, e que, para bem os entendermos, devemos colocar cada um dentro de sua esfera de ação (Pactuantes, objetivos, etc.) e verificar como se relacionam.

Tanto a Confissão como seus Catecismos, didaticamente, abordam apenas 2 pactos: o Pacto das Obras e o Pacto da Graça. Porém, é proveitoso vermos não só os pactos menores - mediante os quais o Pacto da Graça foi administrado aos eleitos - como principalmente o Pacto da Redenção, que foi a origem de tudo, pois foi celebrado entre o Pai e o Filho.


II - O Pacto das Obras

1. Pactuantes: Deus e Adão.

2. Objetivo: Vida (eterna) a Adão e a sua posteridade.

3. Condições: Perfeita obediência às determinações do Criador.

4. Penhor: Árvore da vida

5. Sanções: Ser dominado pelo que deveria dominar.

Ao criar Adão o SENHOR seguiu determinada ordem. Primeiro criou seu habitat e atestou (6 vezes) que era bom. Mas percebeu algo que não era bom: a solidão do homem. Providenciou-lhe então uma companheira idônea. Depois deu-lhe três ordens claras, que a Fé Reformada chama de "os 3 mandatos da Criação":

a - Mandato Social: "Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra" (Gn 1.28).

b - Mandato Cultural: "...sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra" (Gn 1.28) e "Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar" (Gn 2.15).

c - Mandato Espiritual: "E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2.16-17).

Esses textos já são suficientes para vermos com clareza os principais elementos do Pacto das Obras.

1. Os pactuantes: O Criador e Adão. Era um pacto imposto soberana e condicionalmente pelo Criador sobre sua criatura. Além destes temos ainda um mais explícito: "Mas eles transgrediram a aliança, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim" (Os 6.7).

2. A ameaça de morte pressupõe o objetivo: vida. Além disso, os três mandatos nada mais são do que a descrição do objetivo: Adão deveria dominar sobre a criação, como uma espécie de "vice-rei".

3. As condições: deveriam se abster de determinada árvore no meio de tantas outras que compunham o jardim. Ou seja: obediência total.

4. O penhor é mencionado já na descrição (3.9), mas fica claro depois da quebra do Pacto, quando o Criador o interdita a Adão: "Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente. O SENHOR Deus, por isso, o lançou fora do jardim do Éden, a fim de lavrar a terra de que fora tomado. E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida" (Gn 3.22-24).

5. As sanções nos mostram a extensão do que estava pactuado:

- O que hoje chamamos de ecossistema (fauna e flora).

- A biologia (dores de parto, suor do rosto),

- As relações interpessoais (marido e mulher)

- E o relacionamento espiritual (vestimentas de peles).

Somente a existência do Pacto das Obras pode explicar as palavra de Jesus ao Jovem Rico: Obedeça! Entretanto Adão, que poderia obedecer, não o fez, como poderíamos hoje cumprir perfeitamente, não só a letra mas a intenção dos mandamentos de Deus? Portanto a resposta daquele jovem não era a resposta que Jesus esperava ouvir.

Porém, para que o Pacto da Graça seja administrado a nós, há necessidade de outro, eterno, entre Deus e Cristo nosso representante.


III - O Pacto da Redenção

Embora pouco falado, devido a uma abordagem didática diferente das doutrinas sobre a soberania de Deus, o Pacto da Redenção está claro em diversos textos bíblicos:

a. Jo 17.4 "Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer"

b. Ef 1.4-5 "assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo"

c. Ef 3.11-12 "segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor, pelo qual temos ousadia e acesso com confiança, mediante a fé nele"

d. 2Tm 1.8-10 "... segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos, e manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus".

Veja seus elementos:

1. Pactuantes: Deus e Cristo.

2. Objetivo: Vida eterna àqueles que o Pai lhe der.

3. Condições: Perfeita obediência às determinações do Criador.

4. Penhor: Não há!

5. Sanções: Não há!

Iniciamos pensando sobre o Penhor e as Sanções. Se o Pacto é ad intra Trinitatis - entre o Pai e o Filho - que necessidade há de Penhor? Acaso o Filho deixará de fazer a vontade do Pai? Que necessidade há de estabelecimento de sanções?

Este é o pacto, do qual todos os demais são apenas sombras. E difere deles exatamente na impossibilidade de ser quebrado.

Vamos examinar então o objetivo e as condições.

Há uma grande discussão a respeito dos objetivos deste Pacto. Não há dúvida de que ele visa a restaurar o que foi perdido em Adão (e já vimos como isto é abrangente), porém no que concerne às pessoas os textos bíblicos são restritivos: limita-se apenas aqueles que Deus soberana e graciosamente concedeu ao Filho: "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" Jo 6.37

Quanto as condições, não resta a menor dúvida de que o Pai exigiu do Filho obediência total: ativamente ele fez tudo o que o Pai exigiu e passivamente ele sofreu tudo o que estava reservado.

Ativamente: Assumiu a natureza humana (Gl 4.4-5 e Hb 2.14-17).

Passivamente: cumpriu todas as demandas da lei. Até os "is" e os "tis" (Mt 5.17-18).


IV - Conclusão

O Pacto das Obras foi feito com o "primeiro Adão" - que tinha condições de cumpri-lo - e não apenas via o que deveria fazer, mas tinha capacidade de escolher e de realizar sua escolha. Entretanto, preferiu não fazê-lo. Em Adão havia um princípio que Agostinho chamou "posse non pecare".

O Pacto da Redenção foi feito com o "segundo Adão", sob condições muito mais severas e exigências superiores a simples abstinência de uma fruta. Ele sabia o que deveria fazer, mas nele habitava princípio muito superior a qualquer outro: "non posse pecare".

Os resultados do que Adão escolhesse se espalharia por toda sua descendência e os órgãos de seu corpo, bem como os de sua esposa, responsáveis pela descendência passaram a ser-lhes motivo de vergonha, pois seriam o atestado mais evidente de desobediência à missão do Criador. Explico: Se Adão tivesse obedecido sua descendência traria, no mesmo grau que ele possuía, a imagem do criador que ele trouxera ao ser formado do barro. Ele daria continuidade a obra mais importante do Criador - aliás, ele seria o que Cristo tornou-se após ressurreto e glorificado.

Como ele escolheu desobedecer a humanidade tornou-se "filhos da desobediência" e cristalizou-se nela outro princípio: "non posse non pecare".

Os resultados da obediência do segundo Adão, atingem a todos aquele a quem o Pai chamou e deu "o poder de serem chamados filhos de Deus". Por isso Jesus não se envergonha de chamar-lhes irmãos (Hb 2.11).

Os que hoje estão em Cristo, quanto a carne ainda descendem de Adão e cumprem a vontade que dele herdaram, mas quanto ao Espírito (que "... na verdade está pronto, mas a carne é fraca" - Mt 26.41) descendem de Cristo pois "vivem no Espírito" e à medida que "enchem-se cada vez mais dele", mortificam os feitos da carne.

No futuro, serão libertados da natureza do primeiro Adão e ressuscitados viverão com e para o Segundo Adão.

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