30.5.05

Ordem no culto 3 de 3

I – Introdução
Nas 2 lições anteriores, vimos alguns dos princípios que orientam a atuação diaconal sobre a ordem na Igreja: O tempo e a reverência.

Estou longe de falar sobre todos esses princípios (e, também, não é este o objetivo dessas lições), pois os diáconos têm outras funções além de zelar pela boa ordem na casa de Deus, porém, com essas lições, espero, pelo menos, realçar a importância de nossa boa participação no culto a Deus.

Hoje esta série será concluída; não com uma palavra final sobre todos os assuntos, porém, de modo mais amplo, fornecendo algumas bases que facilitem nossas conversas futuras sobre o assunto.


II - O culto e as demais reuniões
Tenho falado que nossa vida tem de ser um verdadeiro culto a Deus, no sentido amplo da palavra “culto”, mas isto não elimina a necessidade de nos reunirmos para “cultuar” a Deus, num sentido mais estrito.

Na lição anterior mostrei que a pessoa que não vive uma “vida de reverência”, dificilmente será reverente ao se reunir em culto a Deus. Isto é o mesmo que dizer que só consegue cultuar a Deus em Espírito e em verdade, aqueles que já o cultuam em todos os seus atos vivendo uma vida santa. Pois mesmo que tentassem fazê-lo, seriam tão rejeitados por Deus quanto é dito pelo profeta Isaías:

10 Ouvi a palavra do SENHOR, vós, príncipes de Sodoma; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, vós, povo de Gomorra.
11 De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios? —diz o SENHOR. Estou farto dos holocaustos de carneiros e da gordura de animais cevados e não me agrado do sangue de novilhos, nem de cordeiros, nem de bodes. 12 Quando vindes para comparecer perante mim, quem vos requereu o só pisardes os meus átrios?
13 Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para mim abominação, e também as Festas da Lua Nova, os sábados, e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade associada ao ajuntamento solene. 14 As vossas Festas da Lua Nova e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece; já me são pesadas; estou cansado de as sofrer.
15 Pelo que, quando estendeis as mãos, escondo de vós os olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço, porque as vossas mãos estão cheias de sangue. 16 Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. 17 Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas.

Há um agravante a mais no problema: o Povo de Deus não se reúne apenas para cultuá-lo. Nos reunimos para estudar a Bíblia, para orar uns pelos outros, para tratar dos assuntos próprios da sociedades das quais somos membros, para ensaiar cânticos, para comemorar aniversários, para agradecer bênçãos recebidas, para jogar bola, etc.

Todas essas reuniões, e tudo o que fizermos na vida, deve ser feito de tal forma que, possamos dizer que foi para a glória de Deus. Até daquele jogo de futebol bem marcado. Ou seja: verdadeiro culto a Deus. Porém jamais podemos deixar de lado o momento de comparecermos diante dele como Igreja.

Neste momento, que deve ter hora marcada para que todos desfrutem da mesma graça, a reverência é imperativa, pois estaremos na presença do SENHOR, confiados nos méritos de seu Filho, trazidos pelo seu Espírito.

Este momento deve estar limitado a falarmos apenas com Deus e ouvirmos apenas a sua voz. Falamos com Deus através de louvores, súplicas ou confissões. Ouvimos sua voz através de sua Palavra lida e exposta.

Nas demais reuniões ouvimos instruções ou opiniões de professores, de amigos e até do técnico de nosso time. No culto ouvimos apenas a Palavra de Deus, através de quem foi ordenado para tanto, e ele nada pode dizer que não possa iniciar com a frase: “assim diz o Senhor”. Tudo que ele falar deve ser, no máximo, uma exposição ou explicação do que o Senhor já falou e foi registrado em seu livro.

Nas demais reuniões falamos também com nossos irmãos, ou com quem nos visita e não entende bem o que está ocorrendo. No culto cabe falar apenas e tão somente com o Deus altíssimo.

Nenhuma outra reunião demanda tais condições: apenas o culto.


III - O que é próprio do culto
O culto exige alguns cuidados que o Povo de Deus deve ter:

a. Senso de coletividade
O culto individual eu presto no silêncio do meu quarto após fechar a minha porta. O culto familiar eu presto, junto com os meus, dentro de minha casa. Porém o culto público quem presta é a Igreja.
Sendo a Igreja que está cultuando, e, sendo você é membro desta Igreja, não é impróprio encarar este encontro como apenas algo para se assistir?

Não é impróprio, também, ausentar-se, distrair-se ou fazer qualquer outra coisa enquanto os demais irmãos estão na presença do Senhor de todos em ato de culto?

Não é impróprio, igualmente, desprezar o começo ou o fim deste bendito encontro?

Ao dirigir-se a Deus, quem o fizer, deve ter em mente que o faz em nome de todos. Não próprio dizer “meu Deus” e sim “nosso Deus”. Não é próprio pedir por suas necessidades individuais (como faz no íntimo de seu quarto, ou à mesa com os seus queridos) mas sim pelas necessidades da Igreja. Não é próprio confessar seus pecados, e sim os pecados da Igreja (e isto se tiver sido ordenado para tanto).

b. Senso de unidade
Que dizer daqueles que, declarando serem um em Cristo, comparecem diante do Pai, com intenções individuais?

Alguns não aproveitam o momento de culto para mostrarem suas posses, seus dons, suas proezas? Eu já ouvi orações, teoricamente dirigidas a Deus, que, na realidade, estão sendo dirigidas aos que estão por perto ouvindo.

Isso não é novidade. Jesus contou a parábola do fariseu e do publicano, que estavam orando. A quem as palavras do fariseu se dirigiam? Leia:

10 Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. 11 O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12 jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
13 O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!
14 Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.(Lc 18)

Jesus declara que ele orava “de si para si mesmo”, com a intenção de ser se exaltar.

Em outro lugar nosso Senhor fala dos hipócritas que gostam de orar “para serem vistos pelos homens” Mt 6.5.

Esta prática é um pecado tão dissimulado que, muitas vezes, não nos damos conta dele. Ela despreza a unidade do corpo de Cristo, pois quem a faz tem os demais como inferiores a si próprio.

c. Senso de responsabilidade
Parece ser óbvio mas não é. Que coisa mais importante podemos fazer, além de nos apresentar diante do Deus Altíssimo? Por que, então, agimos como se estivéssemos em nossos momentos de lazer?

Nossas vestes refletem o que? Louvor ao Senhor dos Exércitos, que nos deu seu Filho?

Nossa disposição? É semelhante a que temos quando nos convidam para momentos de diversão? Podemos nos apropriar da declaração do salmista e dizer que ficamos alegres ao simples convite para ir a casa do Senhor?

Nosso comportamento é adequado a uma audiência com o Rei dos reis e o Senhor dos Senhores, ou, se pudéssemos traríamos pipoca e refrigerante para tornar mais agradável os bancos tão desconfortáveis?

Ouvimos a Palavra do Senhor pensando no que ela afetará nossas vidas, ou a recebemos com críticas semelhantes a: “hoje é diferente”.

d. Senso de trabalho
Embora não gostemos de chamar o culto de trabalho, as palavras que a Bíblia usa sempre possuem esta conotação.

O culto não é um momento de lazer. Tampouco o Dia do Senhor. Não reservamos um dia por semana para ficar a toa, ou gastarmos em nossas próprias recreações. Reservamos para “cultivar” nosso relacionamento com o Senhor. Para aprender sua vontade. Para consagrarmos a ele nossas vidas. Não reservamos o momento de culto para nosso próprio deleite, mas para nos apresentarmos a ele como Igreja. Como produto do “penoso trabalho de sua alma”.

É certo que o repouso faz parte do Dia do Senhor, pois é o modo pelo qual nos preparamos para oferecer a Ele o melhor de nós.

Talvez a melhor figura tenha sido encontrada na Idade Média, quando os feirantes se preparavam com antecedência para saírem cedo de casa e venderem seus produtos nas cidades próximas durante o dia. Naqueles tempos costumava-se dizer que o Domingo era a “feira da alma”, para a qual todos se preparavam com antecedência, e desfrutavam o melhor dela no encontro com o doador de “todos os frutos”.

e. Senso de inadequação
Por incrível que pareça, esta afirmação, tão questionada nos dias de hoje, talvez seja a melhor apresentação do “culto racional”.

Constantemente o Senhor, ao longo de toda a Escritura pergunta: “quem requereu o entrares nos meus átrios?” Nós, finalmente, podemos responder com ousadia: Não merecemos estar aqui, mas trazidos pelo Espírito Santo, e confiados nos méritos de Cristo, nos apresentamos diante do trono santo, com ações de graças e súplicas.

Por natureza a Igreja não é o nosso lugar. Todos estávamos mortos em nossos delitos e pecados e éramos filhos da ira, mas Deus sendo rico em misericórdias ... Veja os capítulos iniciais da carta de Paulo à Igreja de Éfeso. Não esqueça: ele está falando a uma igreja, muito semelhante à Igreja Presbiteriana da Ilha.


IV - Conclusão
O culto é uma bendita oportunidade que temos de oferecer a Deus o que temos de melhor, porém muitas vezes estamos oferecendo-lhe sobejos.

O culto é uma bendita oportunidade que temos de comparecer diante do Senhor dos céus e da terra, daquele que morreu por nós e ressuscitou para nossa salvação, mas as vezes nos comportamos tão displicentemente que parece estarmos ouvindo uma arenga de comadres ou a repetição de um monólogo chato.

Na primeira lição eu expliquei que este assunto era fruto da apreensão dos diáconos de nossa Igreja, que me disseram muitas coisas. Nenhuma dessas coisas me assustou, pois eu já as vi em outros lugares.

Já vi bêbados entrarem na Igreja, namorados “se curtirem”, biscoitos correrem de mão em mão, pais darem chaveiros para seus filhos brincarem, jovens trocando bilhetinhos, diáconos discutindo futebol, pastores grudando chicletes mascados debaixo da cadeira... Se não vi de tudo, falta muito pouco para ser visto.

Como lamento ter de escrever isto. Como lamento ver as ovelhas que Deus me mandou apascentar, trocarem as preciosas bênçãos do Senhor, por coisas tão bobas que se não fossem trágicas seriam engraçadas.

Espero chegar logo o dia em que todos nós não troquemos nada, absolutamente nada, pela “parte de Maria”: ficar aos PÉS do Senhor. Esta é a melhor parte.

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